João, logo de manhã,
Disse á irmã: — Vamos aos ninhos.
— ¿E se nos ralha a mamã
Que quer tanto aos passarinhos?
— Então? Se ralhar, ralhou.
Eu preciso de brincar.
Já ontem disse ao avô
Que iria hoje caçar.
— Ha um ninho de andorinha
Sobre a porta da capela.
— Um outro na da cozinha,
Que eu vi da minha janela.
— Bem. — Tens geito e não és tola.
Pareces-me inteligente.
Se aprendes, é tua a rôla,
Que o pai me deu de presente.
Hei-de ensinar-te, Maria,
Quanto estudo no liceu.
Has de chegar algum dia
A saber tanto como eu.
— Mas tu tens de me ensinar
A gimnástica sueca.
— Ensino. — ¿Antes de jantar?
— Sim. — ¿E tambem á boneca?
— A todos. Mas á lição
Quando eu disser: — numero um!
Responde com prontidão
Porque não ha mais nenhum.
Como não quero cançar
A tua fraca memória
Vou ensinar-te a brincar.
— Conta-me então uma história.
— Vamos aos ninhos primeiro,
Depois te darei lição.
— ¿Se nos vê o jardineiro?
— Faz queixa de nós. E então?
— Vae só. Não contes comigo.
Não farei essa maldade
Que merece ter castigo
Porque é contra a caridade.
— Pois fique a Dona Bondosa
Lamentando os passarinhos,
Toda sentida e chorosa.
Eu vou-me á caça dos ninhos.