O PAPAGAIO




O Pedro, em vez de estudar
Ensina um loiro que tem
A dizer grandes tolices,
Que êle aprende muito bem.

Depois, deixa o livro aberto
E, sem olhar a lição,
Põe-se a imitar os palhaços
A’s cambalhotas no chão.

Sentindo os passos do pai
Ao longo do corredor,
Inclinado sobre a mesa,
Finge estudar com ardor.

– ¿Então ainda falta muito?
Pergunta sorrindo o pai.
– Muito pouco. O que é dificil
Já da idea me não sai.


Retira-se o pai, contente
Por vêr tanta aplicação,
E Pedrito recomeça
A’s cambalhotas no chão.


Ensina um loiro que tem

A irmã, no dia seguinte,
De ouvir o loiro pasmava:
Com língua mais do que sôlta
Velha criada insultava.


E, vendo o criado a rir,
Agitando o espanador,
Perguntou com voz severa:
– ¿Foi você o professor?

O criado protestou:
– Eu não ousava ensinar
Tantas asneiras ao loiro;
Podia o senhor ralhar.

Lili chamou sua mãe
Para ouvir o papagaio,
Que, contente, repetia :
– Esta criada é um raio!

Em casa todos negavam
Ter dado ao loiro lições.
Recaíram no criado
As naturais suspeições.

Resolveu o pai de Pedro
Mandar o culpado embora,
Que jura estar inocente,
E de indignado até chora.

Ajoelhando junto ao pai,
Disse Pedro, envergonhado:
– Seja eu o castigado
Que o pobre sem culpa vai.


– Meu filho, responde o pai,
Cumpriste uma obrigação.
Mas, visto que a falta é tua,
Pede ao criado perdão.


– ¿Foi você o professor?

Se to concede, meu Pedro,
Eu não to recuso, não;
Se o nega, dou-te o castigou
Que merece a feia acção.

O criado perdoou,
E Pedro não tornou mais.
Agora estuda a lição
Sem enganar os seus pais.


Mas fica sempre vexado
Quando o mau do papagaio,
Mal o avista, repete:
– Esta criada é um raio!