Já não posso ser contente,
tenho a esperança perdida.
Ando perdida entre a gente,
nem mouro, nem tenho vida.
Prazeres que tenho visto,
onde se foram? qu’é d’elles?
Fôra-se a vida co’elles!
Não me vira agora nisto!
Vejo-me andar entr’a gente
Como cousa esquecida:
Eu triste, outrem contente,
Eu sem vida, outrem com vida.
Vieram os desenganos,
acabaram os receios:
Agora choro meus danos
e mais choro bens alheios:
passou o tempo contente,
e passou tão de corrida
que me deixou entr′ a gente
sem esperança de vida.
Notas
editar- ↑ MICHAËLLIS, Carolina. A infanta D. Maria de Portugal e suas damas. Porto: 1902. p. 57.