O NEGRINHO



Muito limpo e direitinho,
Passa na rua um negrinho
Com seu guarda-sol aberto.
Gaspar, Luisinho e Roberto,
Que vivem constantemente
Caçoando de tôda gente,
Mal vêem o pobre passar,
Começam logo a vaiar:
— “Olhe o boneco de piche!
Macaquinho de azeviche!
Bôbo alegre! Sai, tição!”...

Mestre Tomás, o escrivão,
Ouvindo isso, chama os três
E diz-lhes: — “Que mal vos fêz
Êsse pretinho infeliz
Que é prêto porque Deus quis?”

Mas começou outra vaia:
— “Olhe o velhote de saia!
Fiau!”... E com essa algazarra,
Um por um Tomás agarra
E, zás-trás! mais que ligeiro,
Mergulha os três no tinteiro.

E eis cada qual mais pretinho,
Mais tinto que a tinta! E, ao pé
Dos três vadios, até
Parece branco o negrinho!