— Deus vos salve, Juliana,
No teu estrado assentada.
"Deus vos salve, rei Dom Joca,
No teu cavalo montado.
Rei Dom Joca, me contaram
Que tu estavas pra casar?

—Quem to disse, Juliana,
Fez bem em te desenganar.

"Rei Dom Joca, se casais
Tornai ao bem querer,
Poderás enviuvar
E tornar ao meu poder.

—Eu ainda que enviuve
E que torne enviuvar,
Acho mais fácil morrer
Do que contigo casar.

"Espera aí, meu Dom Joca,
Deixa subir meu sobrado,
Vou ver um copo de vinho
Que pra ti tenho guardado.

—Juliana, eu te peço
Que não faças falsidade.
Vejais que somos parentes,
Prima minha da minha alma.
Que me deste, Juliana,
Neste copinho de vinho,
Que estou com a rédea na mão,
Não conheço o meu caminho?
A minha mãe bem cuidava
Que tinha seu filho vivo.

"A minha também cuidava
Que tu casavas comigo.
—Ó meu pai, senhora mãe,
Me bote sua benção,
Abrace bem apertado
O meu maninho João.
Meu pai, senhora mãe,
Me bote a sua benção;
Lembranças à Dona Maria,
Também à Dona Celerencia.
A minha alma entrego a Deus,
O corpo à terra fria,
A fazenda e o dinheiro
Entregue a Dona Maria.

—"Cale a boca, meu Dom Joca,
Ponde o coração em Deus,
Que este copo de veneno
Quem te há de vingar sou eu.

—Já acabou-se, já acabou-se,
Ó flor de Alexandria!
Com quem casará agora
Aquela moça Maria?
Já acabou-se, já acabou-se,
Já acabou-se, já deu fim.
Nossa Senhora da Guia
Queira se lembrar de mim.