Lamentae o suicida, porque a sua ultima hora foi uma lucta horrivel entre a desesperação, a incerteza, e, talvez a saudade.
Ao ver-se pobre no mundo, considerou-se o homem sem vida social; mas a vida physica, onde as frechas do desprezo lhe rasgavam até o coração, era-lhe uma algema insoffrivel a maneata'-lo ao poste da vergonha.
Feliz pelo destino, ou desgraçado pela fatalidade, o Lucifer, despenhado d'este céo da terra, que a impiedade lhe deu, optou pelo tumulo entre duas idéas: pobreza e impotencia.
Impotente para vencer a sociedade que lhe não restituia o seu ouro, o desesperado, aborrecendo a morte tanto como a vida, crava-se um punhal, que nem elle sabe se o vinga dos homens, se o deita no tumulo, se o sacrifica á justiça de Deus.
O atheu pensára longas horas antes de erguer-se o patibulo; mas, nos seus ultimos instantes, não era philosopho: era um algoz.
A desesperação enervára-lhe o entendimento, e robustecera-lhe o braço.
O cutello, no braço do algoz, não tem nada com o espirito. Um e outro são machinas de morte.