Alvaro da Silveira não fôra prevenido. A presença do sacerdote, apresentado por seu pae, moveu-lhe uma curiosidade selvagem. Parecia-lhe um sonho aquella visão extraordinaria, aquelle encontro tão disparatado com a sua vida, o seu olhar idiota era eloquente ao mesmo tempo. Revelava uma interrogação natural e desculpavel:—que me quer este homem?

Fr. Antonio, limitado ao seu ensino de portas a dentro, e alheio á vida de Lisboa, não conhecia cabalmente a historia do seu discipulo. Os traços que o pae lhe revelára eram logares communs da mocidade desenfreada. Não é crivel que o padre bem informado, tentasse a empresa de conquista'-lo para a virtude. E quem póde avaliar a coragem religiosa?

Alvaro sorriu, voltou as costas ao mestre, levando em galhofa o que lhe não parecia cousa de serio alcance. Este grosseiro procedimento magoou momentaneamente o padre; mas, repreendido pela caridade, aquietou depressa os irritamentos do amor proprio. Foi então que o pae, tão culpado como desditoso, desenrolou o sudario das desenvolturas de seu filho. Chorava, arrependido do mimo com que o perdera, e perguntou ancioso se seria possivel salva'-lo da sua ruina total.

Fr. Antonio não conhecia limites á sua confiança em Deus. Convicto das mercês visiveis que recebera da omnipotencia do Senhor, sentiu-se illuminado de uma fé que lhe affiançava um prodigio. A peleja travada, em nome da virtude, com o espirito do mal, tinha muitas vezes triumphado de uma parte da humanidade, revoltada contra um só homem. Exemplos de maiores maravilhas alentaram o sacerdote. Desde esse momento, afervorou as suas preces ao Senhor, a cujo aceno a virtude, morta no coração do impio, surgiria como a lagrima do remorso nos olhos de Magdalena.