Maria entrou no quarto do padre. Estava elle ajuntando n'um sacco os seus livros, e uma pouca de roupa branca.
—Já escreveste, filha?! Vamos ver a tua cartinha...—disse elle continuando o seu serviço—Eu estou aqui ajuntando estes farrapos, e estes quatro livros. A nossa bagagem, Maria, é tão pequena, que a póde um frade velho transportar debaixo de um braço. Ora vamos lá; lê a tua cartinha.
Maria leu, affectando serenidade. Não podia, comtudo. De instante a instante, havia embargo de soluços, lagrimas pertinazes, e alterações na côr. Padre Antonio tomou-lhe das mãos a carta, e leu-a em voz alta.
—Está muito boa—disse elle, afagando as faces de Maria—Vou mandar o proprio a Villa-Franca. Ámanhã por noite, está cá a resposta. Eu virei então saber qual ella foi.
—Pois meu tio, já hoje me deixa?!—interrompeu Maria com vehemencia.
—Pois então, menina? A minha licença acaba logo que a trouxa esteja prompta. Eu não extranho isto... Quando me mandaram saír do meu convento que era a minha casa, saí logo; agora mandam-me saír de uma casa, que não é minha, que hei de eu fazer? Saír mais depressa ainda, se é possivel, e sacudir á saída da porta o pó dos meus sapatos. De mais a mais, bem sabes que preciso falar á madre prioreza das Therezinhas no teu agasalho, que ainda não sabemos como será, e todo o tempo é pouco... Nada de lagrimas! Pelo amor de Deus, recebem-se todas as amarguras com olhos enxutos. O merecimento aqui não é chorar, é rir para o céo. Ha uma só causa justa para lagrimas, Maria: vem a ser a offensa a Deus, que é Pae, ou aos homens, que são nossos irmãos. D'estes peccados, absolvo-te eu, menina, que os não tens. A offendida és tu, e, por conseguinte, perdão para os homens, e oração de graças ao Senhor.