Maria recebeu esta carta:
«É o teu amor, ou a tua piedade que me chama, Maria? Se amor...! como hei de eu acredita'-lo? que fiz eu que te não mereça odio? onde póde estar esse amor, depois de seis annos de ingratidões, e esquecimento, a peor de todas?! Esquecimento, não. Lembravas-me, Maria, e sabes quando, e com mais amargura? Quando me sentia caír. A cada empurrão que o destino, ou o Deus da vingança, me dava para este abysmo, era então que eu te via, despenhada por mim, vendo-me caír; mas que differença entre as nossas quedas! Eu a precipitar-te e um anjo do céo a erguer-te para onde a minha alma desesperada não póde já desafogar as suas afflicções!
—Não pódes amar-me, Maria, não pódes. A compaixão, se outro affecto me não tens, essa não a acceito. Além de certo extremo de infortunio, está o egoismo na desgraça, o desprezo da piedade vã se não é antes humilhadora. Deixa-me esperar a mórte, n'este lodaçal em que vivo. A esperança não póde mais entrar em minha alma. Adeus.
Alvaro».