Fr. Antonio dos Anjos, sabendo que a prelada o mandára entrar na grade passados alguns minutos, chegou no ensejo em que a veneranda senhora limpava as lagrimas.
—São lagrimas de felicidade...—exclamou ella—Venha compartir do nosso jubilo, Fr. Antonio. Ahi tem o seu discipulo, que vem do mundo mais instruido do que foi das suas lições. Traz a sciencia da desgraça, e entende que para ser um sabio completo só lhe falta a sciencia da resignação. Essa é que o padre capellão lhe ha de ensinar. Já sabe que o seu quarto ha de ser mobilado por mim, e conforme fôr do meu agrado? Pois ha de ver como uma freira caduca tem ainda o gosto apurado. Hoje ha de remediar-se com a cama que o padre lhe der; amanhã ha de ter um quarto que nem um palmito. Os quadros hão de ser os que a minha filha me deu; são flôres que significam o aroma que vae da oração até Deus; são um cãosinho que é o symbolo da amizade; é uma cruz que significa o throno onde todas as angustias são coroadas soberanas da gloria eterna... em fim, são obras de muito lavor e de muita paciencia, desbotadas quasi todas pelas lagrimas. Ora pois, está tocando ao côro; eu vou lá pedir a Deus que abençoe a escolha que fiz de um genro, e a minha filha, que está mais para chorar, qual quer, vir enxugar essas lagrimas aos pés da cruz, ou ficar aqui?
Maria não respondeu. Frei Antonio interrogou com os olhos a vontade de Alvaro, e conheceu-o opprimido.
—Vão, vão—disse o padre—Nós voltaremos.
—Maria!—disse Alvaro—eu ainda te não ouvi uma palavra. Seja só uma... diz-me: «perdôo-te.»
Maria exclamou entre soluços:
—Deus sabe que nunca te accusei; se me tivesse queixado com ira, pedia-te perdão agora.
—É, pois certo, meu Deus?—disse Alvaro.
—O que?—perguntou a prioreza.
—É certo que é possivel a felicidade para mim?