—Assim a chorar (continuou a freira mudando para o tom jovial) não podemos combinar as nossas escripturas de casamento, nem as precedencias que hão de dar-se antes de se unirem os meus filhos. O sr. Alvaro ha de estar dois mezes na companhia do nosso capellão: ha de vir todos os dias a esta grade almoçar com a sua velha sogra e com a sua futura esposa; ha de vir todas as tardes saber como está o rheumatismo da decrepita prelada, e traduzir-me do francez um sermão do padre Massillon, porque eu já não posso ler. Quando não estiver para ler á velha, ha de me contar o que viu nas suas viagens. Para tornarmos bem amena esta santa vida que projectamos, ha de vir para esta grade o dote que eu dou á minha menina: é um piano, e ella ha de perder o seu natural acanhamento e tocar umas musicas tristes que levam a consolação ao espirito, e trazem de dentro um tributo de lagrimas aos olhos. Ora, pois, meu genro, responda se está pelas condições que eu acabo de propor-lhe.

—Minha senhora...—balbuciou Alvaro.

—Não está?!—interrompeu a prelada.

—Se estivesse ao pé de v. ex.ª... beijar-lhe-ia essa mão, que sinto no coração arrancando-me os espinhos que m'o rasgavam. Deixe-me verter este pranto que é uma respiração de homem que se salva da morte de asfixia. Respondam as minhas lagrimas, senhora, eu não posso dizer mais nada.

—Eu vos agradeço, meu Deus!—exclamou a freira erguendo as mãos, e ajoelhando, com a face pendida para o seio. Fôra como um toque celeste o d'aquella transição do sorriso para a humildade magestosa d'aquella postura, em que Alvaro e Maria pareciam absorvidos, contemplando-se, e contemplando-a, mudamente.