Passados dois mezes encontraram-se frei Antonio e o mercieiro que tinha emprestado dinheiro sobre os rendimentos da casa de Alvaro.

—Já sabe tudo?—perguntou o padre.

—Sei tudo—disse o lojista—O rapaz está outro. Vae ver sua mulher todos os dias, e ouvi dizer que chorava os seus peccados. Que faz elle agora se está arrependido? Porque não tira a pobre senhora do convento? Que se arremedeiem com pouco, e vivam juntos.

—É pouco de mais o que elles têem para viverem.

—Eu darei o que lhes faltar; mas requeiro debaixo de juramento que nunca a minha protecção seja sabida por algum d'elles.

Oito dias depois, Maria dos Prazeres, ou dos Anjos como a chrismaram no convento, para que o sobrenome não fosse uma falsidade, saiu do convento para uma pequena casa, onde seu marido a esperava com a face inundada de lagrimas felizes.

Aquelle viver dos tres era um santo frenesi de amor; Vinham compartir d'aquella alegria o coronel, a mãe de Maria, seus irmãos, e até a prioreza quiz acompanhar sua filha para lhe conter (dizia ella) os impetos amorosos da lua de mel. O padre estava sempre em continua acção de graças. Ria e chorava ao mesmo tempo o bom do velho. No arrebatamento da alegria abraçava a prelada que tinha sempre um equivoco mui engraçado que dizer-lhe n'esses expansivos abraços: riam-se todos e o coronel rejuvenescia da intempestiva velhice.

—Quem dá os meios para esta casa?—perguntava elle.

—A providencia de Deus—respondia o irmão.

—D'onde vem este dinheiro no principio de cada mez?—perguntava Maria.

—Da Providencia de Deus—replicava o tio ás repetidas instancias.