Lembranças, que lembrais o bem passado
Para que sinta mais o mal presente,
Deixae-me, se quereis, viver contente,
Morrer não me deixeis em tal estado.
Se de todo, comtudo, está do Fado,
Que eu morra de viver tão descontente,
Venha-me todo o bem por accidente,
E todo o mal me venha por cuidado.
Que muito melhor he perder-se a vida,
Perdendo-se as lembranças da memoria,
Pois fazem tanto damno ao pensamento.
Porque, em fim, nada perde quem perdida
A esperança tẽe ja daquella gloria
Que fazia suave o seu tormento.