O CALOTE
(imitação do francês)[1]
 
Saí da oficina
Inda não era o sol posto:
Em meio ao caminho encontrei
Trigueira, gentil menina
Toda inteira de meu gosto:
Fui — junto dela parei.
 
Tomei-lhe as mãos trigueirinhas,
(Que macias mãos aquelas!)
Beijei-as com frenesi...
— De todas as moreninhas,
Lhe disse, de todas elas
És a mais linda que vi!
 
— Vamos aos bosques, morena?
Vamos ver os arvoredos,
Que muitos há para ver!
A tarde vai tão serena...
E eu tenho tantos segredos
Que t’os queria dizer...
 
Fui-lhe do braço travando,
Sem mostrar constrangimento,
Que eu a levasse deixou;
Porém, aos bosques chegando,
Com ares de sofrimento,
Em pranto se desatou.
 
— Que tens, por que choras, bela?
Eu não te fiz resistência,
Tu mesma o podes dizer?...
— Ai! soluçou, pobre dela!
Eu choro a minha inocência...
Que vais deitar a perder...—
 
— Esta bem, por Deus, não chores!
Não tocarei a inocência
que Deus manda respeitar;
Tornemos ao campo: as flores
Vai colher da adolescência,
Vai pelos campos saltar.
 
— Livre’stás, podes agora,
Lhe disse ao campo chegando,
Podes rir, podes brincar;
Vai ela, com voz sonora,
Negros olhos requebrando
Pôs-se zombando a cantar.
 
— Que tens p’ra cantar, trigueira?
Responde, por vida minha,
Que tens para assim cantar?
Respondeu: — A sua asneira!
Teve entre as mãos a galinha
E não soube depenar!...


  1. O calote.
    O original é o seguinte, ignoro o nome do autor:

LA PROMENADE
 
Aprés ma journée faite,
Je m’en fus promener;
En mon chemin rencontre
Une fille à mon gré.
Je las pris as main blanche,
Dans les bois je l’ai menée.
Quant elle fut dans les bois,
Elle se mit à pleurer:
“ Ah! qu’avez-vous la belle?
Qu’avez-vous à pleurer?
“Je pleure mon innocence...
Que vous allez m’ôter.”
“Ne pleurez pas tant, la belle,
Je vous la laisserai.”
Je la pris par sa main blanche
Dans les champs je l’ai menée.
Quand elle fut dans les champs,
Elle se mit à chanter.
“Ah! qu’avez-vous la belle?
Qu’avez-vous à chanter”
“Je chante votre bêtise
De me laisser aller;
Quand on tenait la poule,
Il fallai la plumer.”