Mestre Anselmo — sapateiro,
No seu ofício o primeiro,
(O primeiro remendão),
Tinha uma filha formosa,
Chamava-se a filha Rosa,
E era rosa em botão
Como um trono assentado,
Mestre Anselmo repimpado
Na tripeça era um sultão;
Mas, míngua de fregueses,
Passava meses e meses
Sem remontar um tacão.
Um dia o rei da craveira
Nomeia a filha caixeira,
E põe a filha ao balcão:
Acabaram-se os reveses,
Mestre Anselmo tem fregueses,
Já não pode medir mão.
De tão grande freguesia
O mundo todo dizia
Ter ganho o mestre um milhão;
Não que lho desse a craveira,
Mas os olhos da caixeira
Que tinha posto ao balcão...
Certo ou não certo o comento,
Por minha vez acrescento,
E tenho certa razão...
Mestre Anselmo enriqueceu,
Mas a filha... empobreceu
No melhor do seu quinhão!...
Quem quiser no seu ofício,
De mesquinho benefício,
Ser rico do pé p’ra mão:
Tenha uma filha formosa,
E, como o patrão de Rosa,
Vá pondo a filha ao balcão.