XIV
A Ondina

Rente ao mar que soluça e lambe a praia, a Ondina,
Solto, ás brizas da noite, o aureo cabello, núa,
Pela praia passeia. A opalica neblina
Tem reflexos de prata á refracção da lua.

Uma velha goleta encalhada, a bolina
Rôta, pompeia no ar a vela, que fluctua.
E, de onda em onda, o mar, soluçando em surdina,
Empola-se espumante, á praia vem, recúa...

E, surdindo da treva, um monstro negro, fito
O olhar na Ondina, avança, embargando-lhe o passo...
Ella tenta fugir, suffoca o choro, o grito...

Mas o mar, que, espreitando-a, as ondas avoluma,
Roja-se aos pés da Ondina e esconde-a no regaço,
Envolvendo-lhe o corpo em turbilhões de espuma.