XVI
A um poeta
Poeta, quando te leio, a angustia dolorida
Que te mina a existencia e que em teu peito impera,
Faz-me tambem soffrer, d’alma se me apodera,
Como si da minh’alma ella fosse nascida.
Sinto o que sentes: ora a lagrima sincera
Que foi pela saudade ou pelo amor vertida,
Ora a magua que habita em tua alma, — guarida
Onde a negra legião das maguas se agglomera.
Não ha nos versos teus um sentimento alheio
A esse teu coração macerado de fraguas;
Ha nelles ora o suave e módulo gorgeio
Das aves, ora a queixa harmonica das aguas...
Leio os teus versos; e, em minh’alma, quando os leio,
Vae gemendo, em surdina, a musica das maguas...