XVII
Á noite

Eis-me a pensar, emquato a noite envolve a terra;
Olhos fitos no vacuo, a amiga penna em pouso.
Eis-me, pois a pensar... De antro em antro, de serra
Em serra, echoa, longo, um requiem doloroso.

No alto uma estrella triste as palpebras descerra,
Lançando, noite a dentro, o claro olhar piedoso.
A alma das sombras dorme; e pelos ares erra
Um morbido languor de calma e de repouso...

Em noite escura assim, de repouso e de calma,
É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas,
A alma cheia de dor, a dor tão cheia de alma...

É que a alma se abandona ao sabor dos enganos,
Antegosando já chimeras presentidas
Que, mais tarde, hão de vir com o decorrer dos annos.