Já rumores não ha; não ha; calou-se
Tudo. Um silencio deleitoso e morno
Vae-se espalhando em torno
A’s folhagens tranquillas do pomar.
Torna-se o vento cada vez mais doce...
Silencio... Ouve-se apenas o gemido
De um pequenino passaro perdido
Que inda espaneja as suas azas no ar.
Ouve-me, amiga, este é o Silencio, o grande
Silencio, o rei das trevas e da calma,
Em que a nossa triste alma,
Penetrada de maguas e de dor,
Se dilata, se expande,
E seus segredos intimos mergulha...
Prolonga-se a mudez: nenhuma bulha;
Já não se ouve o minimo rumor.
Esta é a mudez, esta é a mudez que fala
(Não aos ouvidos, não, porque os ouvidos
Não conseguem ouvir esses gemidos
Que ella derrama, á noite, sobre nós,
A’ alma de quem se embala
Numa saudade mystica e tranquilla...
Nossa alma apenas é que póde ouvil-a,
E que consegue perceber-lhe a voz.
Escuta a queixa tacita e celeste
Que este silencio fala a ti, tão triste...
E has de lembrar o dia em que tu viste
Perto de ti, pela primeira vez,
Alguem a quem disseste
Uma phrase de amor, de amor... ó louca!
E que, no emtanto, só mostrou na bocca
A mais brutal e ironica mudez!