XVIII
Inverno
A João Luso
Outr’ora, quanta vida e amor nestas formosas
Ribas! Quão verde e fresca esta planicie, quando,
Debatendo-se no ar, os passaros, em bando,
O ar enchiam de sons e queixas mysteriosas!
Tudo era vida e amor. As arvores copiosas
Mexiam-se, de manso, ao resfolego brando
Da briza que passava em tudo derramando
O perfume subtil dos cravos e das rosas...
Mas veio o inverno; e vida e amor foram-se em breve.
O ar se encheu de rumor e de uivos desolados...
As arvores do campo, enroupadas de neve,
Sob o látego atroz da invernía que corta,
São esqueletos que, de braços levantados,
Vão pedindo soccorro á primavera morta.