V
Rainha das aguas

A Alberto d’Oliveira

Mar fóra, a rir, da bocca o fulgido thesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabelleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Numa varina azul orladurada de ouro.

Rema, á pôpa, um tritão de escarneo dorso louro;
Vão á frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.

Crespas, cantando em torno, as vagas, em surdina,
Lambem de pôpa á prôa o casco da varina
Que prosegue, mar fóra, a infinda róta, ufana...

E, no alto, o louro sol que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bella soberana.