O resto da noite foi passado em casa do Faria. Eram anos dele e estive lá mais tempo do que contava. Havia gente e alegria, algum canto e piano, e também conversa.

Faria, apesar do dia e da festa, ria mal, ria sério, ria aborrecido, não acho forma de dizer que exprima com exação a verdade. É um desses homens nascidos para enfadar, todo arestas, todo secura. A mulher, D. Cesária, estava alegre e tinha a pilhéria do costume. Não disse mal de ninguém por falta de tempo, não de matéria, creio; tudo é matéria a línguas agudas. A maneira por que aprovava alguma coisa era quase sarcástica, e difícil de entender a quem não tivesse a prática e o gosto destas criaturas, como eu, velho maldizente que sou também. Ou serei o contrário, quem sabe? No primeiro dia de chuva implicante hei de fazer a análise de mim mesmo.

Quando saí de lá, Faria agradeceu-me, com o seu prazer nasal e surdo, — assim defino as palavras que lhe ouvi, acompanhadas de um fugaz sorriso de cárcere.