Mensagem do Director-Geral da UNESCO



Nova Iorque, 16 de Dezembro de 2003


  • Em 2002-2003, a Ucrânia comemora o septuagésimo aniversário de um dos acontecimentos mais terríveis e trágicos da História ucraniana - a Grande Fome de 1932-1933 (Holodomor). Nesta catástrofe, milhões de pessoas perderam as vidas, na sua maioria Ucranianos, mas também Russos, Cazaques e representantes de outras nacionalidades que morreram de fome na região do rio Volga, no Cáucaso setentrional, no Cazaquistão e noutras partes da antiga União Soviética.
  • A Fome aconteceu em resultado dos actos cruéis e das políticas desumanas de um regime totalitário, e em resultado da colectivização forçada e da guerra civil. O Holodomor, que arrebatou a vida a 1/5 da população rural da Ucrânia, converteu-se numa catástrofe nacional para o povo ucraniano, com inúmeras consequências adversas nos planos demográfico, social, económico e cultural, deixando profundas cicatrizes na conciência das futuras gerações.
  • Devemos preservar a memória das injustiças do Passado, não por desejo de vingança ou de recriminação, mas para homenagear os que sofreram, para respeitar o seu direito à dignidade humana e para reiterar o nosso compromisso em procurar que haja justiça para todos.
  • A UNESCO reconhece a importância da pesquisa e análise de tais acontecimentos trágicos, para que as lições do Passado possam ajudar a prevenir futuramente catástrofes similares e possam contribuir para os esforços comuns, visando a construção de um mundo, no qual, os direitos humanos e as liberdades fundamentais sejam integralmente respeitados. A actividade da UNESCO baseia-se nos princípios consagrados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a qual declara, como objectivo universal, um mundo em que todos os seres humanos, sem qualquer tipo de discriminação, "sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria".
  • Os esforços do governo de Ucrânia no sentido de revelar a verdade sobre o Holodomor, as suas causas e consequências, merecem total apoio da comunidade internacional, de forma a que o povo ucraniano possa reforçar a sua identidade nacional e cultural, bem como partilhar os valores da solidariedade, do respeito pela diversidade cultural, da compreensão mútua, do diálogo, da tolerância e do respeito pela dignidade humana, juntamente com os povos do resto do Mundo.

Koichiro Matsuura