Meu Benzinho, Diga, Diga...

— Meu benzinho, diga, diga,
Por sua boca confesse
Se você nunca já teve
Quem tanto bem lhe quisesse.
"Se é verdade que não tive
Quem tanto bem me quisesse,
Também nunca possuí
Quem tantos tratos me desse.
— Os trabalhos qu'eu te dei,
Você mesmo os procurou,
Que da casa de meu pai,
De lá você me tirou.
— Se de lá eu te tirei
Foi por me ver perseguido;
Quantas e quantas vezes
Não me tenho arrependido!
"Que te arrependes, amor?
Deste teu gênio tão forte?
Não prometeste ser firme
Até na hora da morte?
Até na hora da morte
Sentirei ingratidão,
Tendo sido eu a dona
Roubada deste ladrão!...
Nunca comi de ladrão,
Nem pretendo comer;
Poderei comer agora
Debaixo do seu poder.
— Debaixo do meu poder
Tu terás grande valia;
Saindo dele pra fora,
Não terás mais fidalguia.
"Esta fidalguia minha
Nunca há de se acabar;
Qu'eu com gente mais somenos
Nunca hei de me pegar.
— Pega, então, meu amor,
Procurando opinião!
Que estas meninas de agora
Não buscam estimação.
"Não procura estimação
Só aquela que é pobre;
Uma dona, como eu,
Só procura gente nobre.
— Goza, meu bem, goza a vida,
Qu'eu, à noite, vou-te ver,
Dando suspiros e ais
Pra não te ver padecer.