Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 5

CAPITULO V
De como deixamos Pernambuco de rumo
á terra dos Potyguaras e no caminho
encontramos um navio Francez


Sahindo de Olinda velejámos quarenta milhas até um porto na terra dos Potyguaras, [1] onde pretendiamos carregar o navio com pau-brasil e mercadejar com os indigenas outras provisões.

Ao chegar avistamos um navio francez que fazia a mesma coisa. De accordo com as instrucções de El-Rei atacamol-o, com o fito de apresalo; mas en- viou-nos elle um tiro que nos destruiu o mastro grande, matou-nos varios homens e feriu a outros. Em seguida afastou-se.

O vento mantinha-se contrario aos nossos intentos e não conseguimos entrar no porto onde pretendiamos nos abastecer. Em vista disso o capitão Penteado resolveu regressar ao reino.

A viagem de volta foi pessima.

As provisões eram tão escassas que passámos fome, chegando a comer couro de cabrito, que traziamos a bordo. Distribuiam-se a cada tripulante um

pequeno copo d'agua e um punhado de farinha de mandioca. Permanecemos assim cento e oito dias no mar, até que a 12 de agosto chegámos a umas ilhas chamadas dos Açores e que pertencem ao rei de Portugal.

Tinhamos ahi lançado ferro e estavamos a descançar e a pescar, quando nos appareceu á vista um barco suspeito. Velejamos para elle a indagar que navio era, e como fosse um pirata atacamol-o victoriosamente e o tomamos, emquanto seus homens fugiam nos escaleres para as ilhas. Nessa presa encontramos muito pão e muito vinho, com o que nos regalámos grandemente.

Encontrámos depois cinco navios do rei de Portugal que aguardavam a chegada de um outro das Indias, que devia comboial-os para o Tejo. Esse navio das Indias chegou e ajudamol-o a alcançar uma ilha que chamam a Terceira, na qual se haviam juntado muitas naus de volta do novo mundo, umas com destino á Hespanha, outras a Portugal.

Sahimos de lá conjuntamente com cem navios e alcançámos Lisboa a 3 de outubro de 1548, após dezeseis mezes de viagem.

Em Lisboa descancei algum tempo, até que me deu vontade de ir com os hespanhoes ver as terras que possuem no mundo novo. Com esse intuito deixei Lisboa a bordo de um navio inglez, que ia de rumo para o porto de Santa Maria a carregar vinho.

D'alli tomei para Sevilha, onde vi tres naus que se aprestavam para velejar para a America, com destino a um paiz chamado Rio da Prata. Este paiz, uma terra aurifera de nome Perú, ha pouco descoberta, e o Brasil estão todos no mesmo continente.

Afim de conquistar o territorio do Rio da Prata já de alguns annos tinham seguido varias naus, uma das quaes voltara pedindo reforços e contando como aquillo por lá era rico em ouro.

O commandante dos tres navios em aprestos era Don Diego de Senabria, o qual seguia nomeado por ElEi-Rei como o governador daquelles territorios.

Engajei-me a bordo de um desses navios; eram todos muito bem equipados e deviam sahir por São Lucar, que é por onde a cidade de Sevilha tem communicação com o oceano.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.
  1. Parahyba.