Como eu agora compreendo que se viva escravizada a um sorriso!

Quando tenho meu filho ao colo, nutrindo-se do meu sangue, que deixa a cor da púrpura e veste-se de branco para não macular os lábios inocentes, toda a minha vida nele se concentra.

A felicidade e a desgraça sentam-se junto de mim, sinto-as no contentamento que me alvoroça e nos presságios estranhos que me ocorrem.

É preciso ser mãe, ter gerado para conhecer o verdadeiro amor.

A alma sai-me do corpo e fica junto do infante. Se me arredo um momento sinto-me logo atraída como por uma pesada corrente que se me prende ao coração. E tanto o contemplo, tanto! que fico com ele dentro dos olhos como quem fita um objeto ao sol e depois o vê em toda a parte, ainda na treva mais densa.

Dantes, quando as mães falavam-me de seus filhos, sempre eu as achava exageradas nos louvores. Que diriam de mim as que agora me ouvissem!

O meu desejo era não ter na boca outras palavras senão estas: “Meu filho!” São as que o coração me inspira, são as que me agradam ouvir.

Elas fazem um giro alegre como um casal de passarinhos brincando. Saem-me dos lábios, entram-me pelos ouvidos cantando, circulam o meu coração e me tornam à boca.

Meu filho! E não há todo um mundo de amor dentro delas? Que mais é preciso para a ventura?

Quando as suas pálpebras se descerram inclino-me e busco ver nas suas pupilas – que são agora os meus espelhos – o que elas contém.

Fico tão perto que elas só a mim reproduzem.

Do mais tenho ciúme, nem quero que seus olhos tenham outros habitantes.

Quando ele estremece, tremo. Quando ele sorri é tão grande a minha alegria que fico num atordoamento desvairado, sem saber que faça, e choro e rio.

Ai! de mim quando ele chora.

Não tendes notado que eu sou agora como uma faminta perdida que não se sacia de alimento?

Não é que tenha fome, não; mas penso nele e, como é preciso que ele encontre sempre farto o peito em que se nutre, transformo-me em celeiro.

Dormir, nem sei se durmo, porque ao mais leve movimento que ele faça surpreendo-me a mim mesma achando-me a seu lado, agasalhando-o, afagando-o, procurando readormecê-lo ou acalentando-o, se chora.

Eu não era assim amorosa, meu senhor. Agora que o tenho não parece que vivo no mundo, só dele me lembro. Onde ele está aí é que me apraz viver.

O seu berço é o oásis em imenso deserto.

Dizeis, às vezes, que me distraio porque não vos respondo de pronto. Não é distração, é que alma está junto dele – o corpo fica vazio como uma casa fechada cujo dono trabalha na seara.

Disseste uma vez: “As mães adivinham.” Como conheceis o coração materno!

E há mais que ficam no mundo quando lhes morre o filho. Como se podem guiar na vida? Como podem caminhar sem arrimo? Como podem ver sem a luz? Como não soçobram no pranto? Eu...

- Por que choras, Maria?

- Porque sou feliz, meu senhor...