ADVERTENCIA

As opiniões de Mister Slang tiveram a sorte de interessar o nosso publico, ao surgirem, em Janeiro, estampadas n“O Jornal”. Por que? Pelo tom fleugmatico e sereno de que nunca se arreda o vermelho subdito de S.M. Britannica? Pela sua independencia mental? Ignoro-o e nem vale a pena esclarecer este ponto, sem minima possibilidade de influencia no movimento de rotação a terra. Interessou e basta.

Quem é este Mister Slang?

John Irving Slang nasceu na cidade de Hull, em 1872, e fez estudos em Cambridge. Muito jovem ainda, 22 annos, deixou a ilha e se partiu a correr mundo, ganho de uma insaciavel fome de pittoresco. Esteve na India, na Nova Zelandia, nas ihas Salomão, em Haway, em Sarawak e outras inconcebiveis terras de gente côr de pinhão. Por fim veio ao Brasil, onde encalhou por quarenta annos no mais lindo “bungalow” de Alto da Bôa Vista.

Absorveu-se em estudos das nossas coisas, depois que se retirou dos negocios, cheio de libras e notas da extincta Caixa da Conversão, a qual o bigodeou indecorosamente, seja dicto de passagem.

Nada mais sei deste homem excentrico e, cá para nós, maniaco e exquisitissimo, como em regra todo inglez celibatario maior de sessenta annos. A sua repentina partida para o celeste imperio, “a ver a China desopilar-se de europeus”, muito intrigou os seus amigos, plantando em meu espirito um sério ponto de interrogação. Si por acaso escrever-me de lá, como prometteu, é possivel que o publico ainda obtenha novos esclarecimentos a seu respeito. Tambem é possivel que Mister Slang regresse. Assim o espera a criada Dolly, que ficou de guarda ao “bungalow” da Tijuca.

— Elle não póde viver longe do Brasil, por causa das orchideas, diz ella.

A bôa Dolly confunde orchidismo com parasitismo social, velho objecto de estudo do meu caro inglez da Tijuca...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.