As locuções populares.


SOFFREM as locuções populares, plebéas, as injuncções da moda como tudo o mais. Nascem, propagam-se com rapidez espantosa e morrem esquecidas. Uma ou outra vinga sobrevivencia e penetra na lingua. Vi nascer nestes ultimos tempos boa quantidade dellas: O´ ferro! Nunca vi tanto aço! — Talvez te escreva. — Volte amanhã. — "tá bom, deixe. — Fala-me logo á sahida. — E durma-se — Mamãe, olhe a cara delle! — Dinheiro haja, senhor barão! — P'ra burro — A' bessa. Nascem em geral no Rio, afloram o theatro, expandem-se pela imprensa, dão volta ao paiz inteiro e morrem.

O mesmo se dá com as musicas, as modinhas e as pilherias. Propagam-se como ondas sonoras. A Caraboo foi cantada e assobiada por milhões de pessoas, numa verdadeira séca. Desbancou-a a Canção do soldado, por sua vez batida pela Cabocla do Caxangá. Daria obra interessantissima o historico dessas creações populares, sua evolução, sua funcção, sua morte. Vivem intensamente e morrem de pedra e cal. A Caraboo, quem a assobia hoje? Quem a tolera? São em geral lindas creações, victimas das suas proprias qualidades. Prostituem-se, Viram “coisas atôas”, coisas compromettedoras. Os maiores aficionados acabam repudiando-as, forçados por injuncções da moral. O cantal-as toma-se até acto indecente...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.