Em 2527.
NO futuro, a obra literaria será apresentada sob forma de essencias em frasquinhos ou d'alguma especial electricidade accumulada em bobinas. Sorvendo a essencia ou pondo-se em contacto com o fluido, o leitor terá, desdobrado na tela da imaginação, o romance que o autor enfrascou ou accumulou, sentindo as mesmas emoções que o romancista sentiu.
Já em nossos tempos o alcool, o opio e outras drogas produzem visões e deliciosos estados d'alma. Indeterminados, porêm, sem control possivel. No futuro, não. A seriação das imagens será perfeitamente ordenada pelo jogo dos stimulus.
Não se dirá como hoje: li um romance e sim — cheirei.
— Marieta, onde poz você o Professor Jeremias que estive cheirando hontem?
— Cahiu das mãos da Valeria e quebrou-se.
— Mande á pharmacia comprar outro. E uns novos, Vida Ociosa, Condemnados, por exemplo.
— Fluido ou comprimido?
— Em comprimidos. Com estas criadas, impossivel uma bibliotheca fluida...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

