No hospital.
VISITA ao hospital.
Que triste coisa, um hospital! A miseria humana em todo o esplendor.
A victoria da côr amarella, o desanimo, as attitudes fakirianas, o ar boçal, o ar resignado, o ar vencido.
Um negro, sentado á beira da cama, tinha a cara nas mãos e os cotovellos fincados nas rotulas. Perfeita esphinge de ebano cujo negror só quebravam dois olhos grandes, muito brancos, de vago olhar fatalista. Ao ver-nos, moveu-os apenas e logo os baixou, indifferente.
Em todos os leitos, espectros, sombras de creaturas immobilizadas em posições morbidas, á espera da saude.
Esperar o regresso da saude, a lenta volta da desertora...
Fazem-no como quem olha para o relogio e acompanha o movimento dos ponteiros.
Aquella colmeia de infelizes vive para o tempo, contando o tempo, marcando o tempo, vendo, sentindo, esperando passar o tempo...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.