Os gurys.
MATCH de futebol improvisado defronte minha janella, no largo. Só gurys, cinco de cada banda. Quatro tijolos demarcam os goals. A bola: maçaroca de panno atuchada em pé de meia. Discussões, tombos na lama, berreiro, disputa verbal incessante, sempre chegando ás boas o team que bérra menos. Todos os termos inglezes adulterados, mas bem apprehendidos — golkipa, gôr, córne, ofiçai, chute, etc. Approximam-se espectadores, todos pequeninos.
— Posso entrar no jogo? indaga um.
Os de dentro, orgulhosos:
— Sapo não joga!
Chega outro, de carrinho — uma isca humana, filhote de tico-tico que apenas engatinha. Traz na cabeça o chapéu do pae e na bocca a chupeta. Empurra o carro — caixão de kerozene com duas rodas — seu irmãozinho. A tantas o goal-keeper, de pé armado para um formidavel kick, prevê desastre e grita:
— Tire essa porquerinha d'ahi, que lá vae fogo!
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.