Nojenta prole da rainha Ginga,
Sabujo ladrador, cara de nico,
Loquaz saguim, burlesco Theodorico,
Osga torrada, estupido resinga;
E não te accuso de poeta pinga;
Tens lido o mestre Ignacio, e o bom Suppico;
De occas idéas tens o casco rico,
Mas teus versos tresandam a catinga:
Se a tua musa nos outeiros campa.
Se ao Miranda fizeste ode demente,
E o mais, que ao mundo estolido se incampa:
É porque sendo, ob Caldas, tão somente
Um cafre, um goso, um nescio, um parvo, um trampa,
Queres metter nariz em cu de gente.
Notas
editarÉ dirigido ao padre Domingos Caldas Barbosa (Lereno Selinuntino) no tempo das contendas com os Arcades (vejam-se para a historia d′esta guerra a «Livraria Classica» tomo XXIII e o «Estudo Litterario» no tomo VI da nova Edição das Poesias de Bocage a pag. 329 e seguintes).
Como em qualquer das duas obras, nos logares que deixamos apontados, se encontram varias poesias satyricas, com que os contendores e rivaes d′Elmano o brindaram, em desforra e retribuição de muitas, que elle lhes dirigira (as quaes tambem podem lêr-se no tomo I da citada edição de Bocage de paginas 341 a 363) parece-nos que os leitores nos haverão em graça que lhes completemos a collecção d′essas obras, dando-lhes incorporadas não só algumas das já impressas, que por circumstancias e motivos obvios se haviam publicado com suas lacunas, restabelecendo-as aqui na sua integra, mas tambem outras, de que por ventura não terão conhecimento. Ahi vão portanto em seguida todas as que conservamos d′esta especie.
[Nota de Inocêncio Francisco da Silva. Os poemas por ele referidos podem ser conferidos nas páginas a seguir: 1) Emquanto a rude plebe alvoroçada; 2) Morreu Bocage, sepultou-se em Gôa!; 3) Esqueleto animal, cara de fome; 4) Ha junto do Parnaso um turvo lago; 5) De todos sempre diz mal; 6) Impondo duração além das eras.]
- ↑ MATTOSO, Glauco. Bocage, o desboccado; Bocage, o desbancado. São Paulo: 2002. Disponível em <http://www.elsonfroes.com.br/bocage.htm. Acesso em: 28 maio 2014.