Ernesto Matoso — "Coisas de meu tempo", pág. 77.
O Imperador Pedro II nutria uma aversão indissimulável à bajulação. Por isso mesmo, os homens que menos influência exerciam sobre o seu ânimo eram os da sua intimidade, principalmente os que ocupavam cargos de etiqueta na Casa Imperial.
Um destes, seu camarista, subserviente pelo cargo e pela índole, desejava entrar para a política, e apareceu como candidato de um dos partidos a uma cadeira no Senado.
Votado em primeiro lugar, foi preterido na escolha pelo monarca. Três vezes veio, ainda, na lista tríplice e três vezes foi esquecido. Conhecendo-lhe a doblez como palaciano, o Imperador sabia que esta se não coadunava com a independência e a altivez indispensáveis a um senador daqueles tempos.
Ressentido, o camarista indagou de Sua Majestade a razão de tantas preterições.
— Não_ tenho queixas contra o senhor, declarou o soberano.
E deixando patente o motivo:
— É que são tão importantes os serviços que me presta como "servidor da minha casa", que não quero privar-me deles!