Cândido Freire — "Rev. do Brasil", n° 60, de 1920
A 10 de novembro de 1840 penetravam a bordo do patacho Saraiva, ancorado a pouca distância do cais, na Baia, um pretinho de dez anos, e que seria mais tarde o poeta e abolicionista Luiz Gama, o pai deste, homem branco, e jogador, que o tivera de uma preta-mina, e o dono de uma casa de tavolagem, de nome Quintela.
Enquanto o menino se distraía com os marinheiros, os dois entram em entendimento com o capitão, e retomam o bote que os trouxera. Ao vê-los partir, o negrinho corre, chega à escada, e grita:
— Meu pai? meu pai? não me leva?
— Eu volto já, para te levar, — informou o miserável.
E o menino, compreendendo tudo, num ímpeto de dor e de revolta:
— Meu pai, o senhor me vendeu !...
E era verdade. Foi assim, vendido, que Luiz Gama veio para o Rio, e foi, escravo, do Rio para São Paulo.