Alberto Rangel — "In memoriam de Euclides da Cunha", pág. 17
Adido à coluna do general da expedição a Canudos, Euclides da Cunha assistia, horrorizado, a selvajaria com que um dos assessores do comandante tratava os jagunços. A sua alma de civilizado confrangia-se ante aqueles espetáculos de barbaria ordenados pelo carrasco.
Uma tarde em que marchavam juntos por uma encosta, pareceu a Euclides ver sob a farda do Torquemada o ouro de um crucifixo.
— Que é isto? — indaga, surpreso.
— Jesus! — responde-lhe o oficial.
— Pois, olhe, — diz-lhe o escritor, revoltado com aquela hipocrisia.
E batendo no peito:
— Eu tenho aqui dentro um coração!