Quando o duque voltava da caçada
Alegre num clarim d’aço vibrante
De alacridade moça e evigorada
Dum ruidoso e trêfego estudante.
Quando ele vinha com seu ar bizarro
De atravessar os vales e as colinas,
Sadio aspecto fresco como um jarro
Cheio de leite às horas matutinas.
Em toda a aristocrática varanda
Alta e vistosa, ampla, aberta em janelas,
Ele vibrava, de uma e outra banda,
Cancões de amor, nostálgicas e belas.
Do salão nobre entre tapeçarias
De Gobelins, riquíssimas e raras,
Iam vibrando aladas harmonias
Da sua voz, esplêndidas e claras.
Todas as fluidas, leves, calmas, frescas
Manhãs azuis, serenas e formosas,
Loura mulher das regiões tudescas
O seu bom dia era mandar-lhe roses.
Floria, é certo, em grande amor, floria
Gerado pelo eflúvio dessas flores,
Pois quando o duque não as recebia
Era o mais infeliz dos caçadores.
Tão doce amor lembrava aquelas lendas
Dos medievais castelos esquecidos,
Quando visões de nuvens e de rendas
Apareciam nos balcões floridos.
A caça, a caça, eternamente a caça!
Quanto melhor, mais fácil não lhe fora
A conquista das aves do que a graça
De conquistar essa beleza loura!
Para possuí-la como noiva amada,
Aceso há muito nas paixões insanas,
Arrostaria a caça mais ousada
Dos javalis nas selvas africanas.
E sempre as lindas rosas matutinas
Vinham-no perfumar todos os dias,
Quando saltava aos vales e as colinas,
Bizarro e são, dentre as tapeçarias.
Tempos passaram sobre tais amores!
Mas depois de casado fez surpresa
Saber que o duque, o rei dos caçadores,
Não tinha o mesmo amor pela duquesa.