Olá, guardador de rebanhos
Acho tão natural que não se pense
Acordo de noite subitamente
Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto
Ao entardecer, debruçado pela janela
Aquela senhora tem um piano
As bolas de sabão que esta criança
As quatro canções que seguem
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta
Bendito seja o mesmo sol em outras terras
Como quem num dia de Verão abre a porta
Como um grande borrão de fogo sujo
Da mais alta janela da minha casa
Da minha aldeia vejo quanto a terra
Deste modo ou daquele modo
E há poetas que são artistas
Esta tarde a trovoada caiu
Estas quatro canções, escrevi-as estando doente
Eu nunca guardei rebanhos
Há metafísica bastante em não pensar em nada
Leve, leve, muito leve
Li hoje quase duas páginas
Meto-me para dentro, e fecho a janela
Não me importo com as rimas
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo
No entardecer dos dias de Verão, às vezes
No meu prato que mistura de Natureza!
Num dia excessivamente nítido
Num meio-dia de fim de Primavera
O luar através dos altos ramos
O luar quando bate na relva
O meu olhar azul como o céu
O meu olhar é nítido como um girassol
O mistério das cousas, onde está ele?
O que nós vemos das cousas são as cousas
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Ontem à tarde um homem das cidades
Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras cousas
Passa uma borboleta por diante de mim
Passou a diligência pela estrada, e foi-se
Pensar em Deus é desobedecer a Deus
Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
Rimo quando calha
Se às vezes digo que as flores sorriem
Se eu pudesse trincar a terra toda
Se quiserem que eu tenha um misticismo
Só a natureza é divina
Sou um guardador de rebanhos
Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta