O Sr. Inglês de Sousa, autor de O Missionário, manda-me a seguinte carta extremamente curta:
"Cumprindo as suas ordens, respondo aos quesitos da circular que teve a gentileza de enviar-me.
1º. — Os autores que mais contribuíram para a minha formação literária foram Erkmann-Chatrian, Balzac, Dickens, Flaubert e Daudet.
2º. — Das poucas obras que hei publicado, prefiro O Missionário, ainda que a sua fatura não corresponda ao meu modo atual de ver e sentir a natureza. O Missionário é espesso e palavroso; tem, pelo menos, cem páginas a mais. Todavia ainda hoje escreveria alguns capítulos, como o da viagem do Padre, o dia do Nico Fidêncio, o enterro do Totônio Bernardino.
3º. — A este quesito só podem responder bem os que se entregam a crítica literária, cousa de que Deus me defenda. Como amador de literatura penso que é o lirismo a forma que há de predominar na poesia, e ao romance já agora é impossível tirar a preocupação social que está em todos os espíritos. Para falar com franqueza, considero secundária esta questão de escolas em arte: não chego mesmo a estabelecer outra distinção entre os trabalhos literários se não a de ter ou não ter talento o sujeito que se mete a escrever para o público.
4º. — É possível, com o tempo, quando a federação tiver criado verdadeiros Estados e os Estados se tiverem tornado nações.
Por enquanto, não conheço nada mais parecido com o brasileiro do norte do que o brasileiro do sul. Não partilho da opinião do Sr. Assis Brasil sobre as diferenciações étnicas produzidas pela farinha de mandioca e pelo churrasco.
5º. — Fazer literatura e fazer jornalismo são coisas diversas, como fazer arquitetura e fazer engenharia.
Está demonstrado que se pode ser ótimo jornalista sem saber ler nem escrever. Em compensação, há redatores de periódicos que se contam entre os melhores literatos. Também há diretores e amanuenses de secretaria, escrivães e outros rabiscadores de papel, que são excelentes poetas e grandes romancistas. O que não quer dizer que a burocracia seja bom fator para a arte literária..."
É, como se vê, curta, mas cheia deidéias.