Quadro VII editar

Cena I editar

(Na Praia do Russel. O mar invade a maior parte da cena. É noite. A Lua está em todo o esplendor. Sente-se amiudadas vezes durante o quadro a bulha dos foguetes e o estalar dos Morteiros.)


Cartomante e Santinha


(Entra cada Uma por seu lado e ficam separadas.)


Cartomante (À parte.) Quem será esta sujeita?

Santinha - Quem temos de novo?

Cartomante (Á parte.) - Será concorrente?

Santinha (Á parte.) - Teremos novo milagre?

Cartomante - Tenho pena que as minhas cartas não adivinham senão para os tolos, aliás ia já perguntar-lhes porque está esta cara de Morte aqui.

Santinha - (Á parte.) - Ah! que se eu não fizesse milagre senão para os parvos, havia de arranjar Um ovo que pusesse a andar esta dama!? Será ela da roda cortesã? O melhor é ir ter com ela. (Alto.) Nosso Senhor esteja na sua Santa guarda.

Cartomante - Eu não creio em Deus... o meu poder vem do inferno.

Santinha - Credo! Cruzes!... Abre-te núncio!

Cartomante - E tanto assim que vim dizer-lhe quem é, com o auxílio das minhas cartas. (Vai para estender as cartas.)

Santinha - Isso para mim já não pega. (Mostra Um grande ovo, onde está escrito: Fome, peste e guerra.)

Cartomante - O quê? O célebre ovo... o prodigioso milagre da galinha Santa... Lavre dois tentos, colega... Venha de lá Um abraço. (Abraçam-se.)

Santinha - Você é Uma felizona. O seu modo de vida é livre, pode ter letreiro à porta: anuncia o negócio e a ciência em Todos os jornais, é consultada por todas as classes e hierarquias, ganha bons cobres... enquanto que a mim foram-se à mão... diziam que faria concorrência à água da gruta, e que, neste tempo de Seca, toda água é pouca... e tão pouca, que até já falta nos incêndios. A não ser algUma devota muito tola - já poucos acreditam em mim... Diga-me o que faz por aqui?

Cartomante - Espero Um sujeito que me quer consultar... e, para dar mais aparato à coisa, mandei-o vir aqui.

Santinha - Pois eu vim do caminho... quero ver o fogo de vistas... sempre nestas multidões se colhem muitas histórias que é bom saber.

Cartomante - Seja feliz.

Cena II editar

Os mesmos e Boato


Boato - Ora seja bem aparecida.

Cartomante - Já o espero há meia hora.

Boato - Se adivinhasse, como diz, podia ter poupado o trabalho da espera.

Cartomante - E o Homem?

Boato - Não pode tardar... Quem é esta dama?

Cartomante - É a senhora do ovo.

Boato - Bem sei... é a galinha!

Cartomante - Não é isso... é a dona possuidora do ovo milagroso.

Boato - Ah! já sei... foi Um ovo espertalhão que saiu cá para fora com Umas palavras escritas na casca... dona, de maneira que não puderam fazer deles, ovos moles, livrou-se assim até de ser estalado.

Santinha - Nem assim!

Boato - O quê? Pois foi passado pelas engolideiras.

Santinha - Não somos nada neste mundo!

Boato - Lá vem ele... e com a mulher. Pode Uma de vossemecês encarregar-se da mulher e outra do sujeito. Ele não é tolo, mas é ignorante político, aprecia a boa vida, é entusiasta, e gosta de andar arredor da amante, que é pouco mais ou menos como ele... Até a vista.

Santinha - Como se chama ela?

Boato - Opinião.

Cartomante - E ele?

Boato - Zé Povinho.

Santinha - Creio que há de ser difícil separar a Opinião do povinho.

Boato - Também eu; mas nesse caso separemos o povinho da Opinião. (Sai.)

Cena III editar

Cartomante, Santinha, Zé Povinho e Opinião


(Cartomante e Santinha conservam-se Um tanto quanto afastadas.)

Opinião -Bem te dizia eu que nos fossemos embora. Nunca me queres ouvir e agora aí o tens. Esta mania de consultar a Bruxa há de ser como a de comprar o tal bilhete da loteria.

Zé - Pois sim, mas quem podia adivinhar que havia dois bilhetes com o mesmo número.

Opinião - Como eles arranjam essas coisas é que não sei... Foi como a história dos leilões.

Zé - Não me fales nisso, que é a página negra da minha vida.

Opinião - Tudo por dar ouvidos a intrujões.

Zé - Ora tu sabes que eu andava Um tanto quanto necessitado de camisas... era mesmo muito boa pessoa, mas tinha poucas roupas brancas... Passo por Uma casa... O leiloeiro gritava: 20 mil réis... 35... e 500 e 600 e... 365, não dão mais? 36, 36, 36, 36. A quem mais lança? Não lançam mais?... Parabéns, Senhor Zé Povinho. Dou o sinal e mandam-me, não Uma caixa de dúzia, mas Um caixote com Uma dúzia de caixas.

Opinião - Foi Uma boa camisa de onze varas. E ainda não te emendaste... Caíste noutra.

Zé - E quem não havia de cair. Passo na mesma casa, e o mesmo sujeito gritando: Uma caixa de ceroulas, 20$000... levo a caixa... e encontro-me...

Opinião - Com meia dúzia!! É muito bem feito, que é para não ser tolo... Agora vá ter com sua amiga, a Política, essa vergonha que tem o perdido, e peça-lhe que remedeie o mal.

Zé (Que vê a Bruxa.) - Cala-te, que ali está a Bruxa.

Cartomante - Bruxa vá ele... Veja como fala.

Zé - Com a dita ao bruxo... volto eu... se disse coisa que a escandalizasse.

Cartomante - O que faço é filho dos altos estudos da ciência... (A Santinha.) Não é verdade?

Santinha - Assim é... eu, porém, desprezo a ciência e faço tudo com o auxílio do Altíssimo.

Opinião - Sim?

Santinha - É como lhe digo... A senhora quer saber o seu destino... eu faço divina invocação e tudo se me patenteia.

Opinião - Ora vejam lá... Estava meio tentada...

Santinha - É Deus que a inspira...

Cartomante (Tem se afastado disfarçadamente com o Zé, e o mesmo faz Santinha com a Opinião.) É como lhe digo... As cartas vão dizer-lhe tudo! (Senta-se e deita as cartas.) Longa viagem... mulher feia...

Zé (Á parte.) - Não há dúvida... Foi a viagem que fiz com a minha mulher.

Cartomante (Lendo as cartas.) - Lá está... dama de paus... feia como é... é perseguida e amada.

Zé - O quê? Que eu o faça por obrigação, vá; mas, que haja quem tenha o mau gosto de fazer as coisas por devoção... é que me custa a roer.

Cartomante - Pois roa a verdade... lá está ele... Valete de copas. (Continua a cena muda.)

Santinha - Revelam os sagrados espíritos que seu marido trama Um divórcio.

Opinião - Ah! Patife!

Santinha - Convém evitá-lo!

Opinião - Como?

Santinha - Despertando nele o ciúme.

Opinião - E depois?

Santinha - Depois há de ser ele quem há de vir com a senhora.

Opinião - E posso-lhe afirmar que há de ser bem convidado. Veja o resto.

Cartomante (A Zé.) - Ela pretende ir com ele para longes caminhos com muitos dinheiros.

Zé - Não é minha mulher... É Uma nova edição da mulher de Cláudio...

Cartomante - A espadilha o afirma.

Zé (Olhando para a Opinião.) - Deixa estar, que eu te arranjarei, mas em tal conjectura, o que hei de fazer?

Cartomante - Deixá-la fazer o que ela quiser, e vigiá-la de perto.

Zé - Acho pouco essa coisa de só vigiar.

Cartomante - EnciUmá-la a valer... e então verá ela quem voltar ao aprisco.

Zé - Aprisco não, a casa.

Opinião - Há de ser como lhe digo.

Zé e Opinião - Está tudo acabado entre nós.

Zé - A senhora é!...

Opinião - O senhor é!...

Cena IV editar

Os mesmos, Política e Boato


Política - Então, o que é isso?

Opinião - Olhem quem ela é... a senhora é que é a causadora de tudo isto!

Boato (A Opinião.) - Sosseguem!

Opinião - Que sossegue?!

Boato - Aqui estou eu para a amparar.

Opinião - Ora deixe-se disso.

Boato - Lembre-se que, se a sigo há tempo, é porque a amo.

Opinião - Olhe que meu marido pode ouvir.

Boato - Não tema, porque está entretido com a Política.

Opinião - Eu vou lhe arrancar os olhos.

Boato - Vamos antes ver o fogo de vistas.

Opinião - Eu é que tenho a vista em fogo... e estou a arder...

Santinha (A Opinião.) Faça o que lhe disse, se perde esta ocasião, não apanha outra tão cedo.

Opinião - (Ao Boato.) - Tem razão. Vamos, meu querido. (Saem de braços dado.)

Zé (Como Uma bicha.) - Seu querido?! E ela vai com ele! Quem é aquele biltre, que não o conheço à noite?

Política - O Boato.

Zé - Eu já o devia conhecer... Mas toma Todos os dias Uma cara diferente! Mas o que dirá o mundo, vendo a Opinião com o Boato?

Política - Não diz nada, porque o caso não é novo. Vem comigo.

Zé - Mas não me dirá que insistência...

Política - Quero falar contigo a respeito das eleições municipais... e de muchas cosas más.

Zé - Isso é outro caso... Primeiro que tudo o bem da pátria...

Política - Oh! Sim!... Abençoado seja o bem da pátria...

Zé - Que me livra da minha mulher e me dá motivo para Um divórcio... Onde vamos?

Política - Ver o fogo. (Saem.)

Cartomante - E nós?

Santinha Vamos atrás deles para que nos paguem. De graça é que eu não trabalho... Ora que pouca vergonha.

Cartomante - Logo vi que a coisa acabava mal... estando a Política metida no negócio. (Saem.)

Cena V editar

Espectador, só


Espectador - Safa! Nem aqui me deixam... Sou apoquentado por Todos os lados... Eu não pertenço à peça, lá isso é verdade, pois até aqui me perseguem as subscrições. Não vejo surgir ante mim senão vítimas, e a mais vítima de todas é a minha pobre algibeira, que vai ficando visivelmente ética.

Depois de tantas subscrições, deve-se abrir Uma entre as vítimas, para os que subscreveram para elas... Lá vem mais... por esta é que não estou... Onde me hei de esconder. Ah! ali. (Esconde-se.)

Cena VI editar

Espectador, escondido, Homem da Pêra, Amigos


Homem da Pêra - Obrigado, adeus.

1º Amigo - Guarde-te bem, para não te acontecer o mesmo que ao inglês. E, assim, que estiveres em Nova Iorque, escreve.

Homem da Pêra - Adeus... Até a vista, e que os céus me proteja. (Salta para a praia para se meter nUm bote e os amigos lhe dizem adeus.)

Amigo - Manda notícias.

Homem da Pêra - Mandarei as notas de viagem e serão verdadeiras como todas as que tenho usado na minha vida.

Amigo - Adeus... e se encontrares o célebre orador que morreu na África, manda novas dele. (O barco some-se e os amigos retiram-se.)

Cena VII editar

Espectador e depois Urbano


Espectador - Aquele parece-me que vai sem visto no passaporte... Felizmente vê-se livre das subscrições. (Vai passando.)

Urbano - O senhor viu-o?

Espectador - A quem?

Urbano - Ao passador?

Espectador - Eu não vi nada.

Urbano - Mas disseram-me que havia de desembarcar aqui; demorei-me demais... encontrei a mulher das cartas e não pude resistir ao gostinho de a consultar.

Espectador - Fez muito bem.

Urbano - O diabo é que o perdi de vista.

Espectador (Atemorizado.) - Lá vem ele!

Urbano (Apitando.) - Socorro.

Espectador - Apite. Aliás estamos depenados!

Urbano (Tirando sossegadamente o apito da boca) - Mas quem são eles?

Espectador - O povo das subscrições.

Urbano - Misericórdia! Salve-se quem puder. (Vai a sair e a cena invade-se de povo.)


Coro de Velhos


Espectador - Retirem-se... eu não posso mais... estou roubado. (Saem Todos.)

Cena VIII editar

Espectador, só


Espectador - Graças a Deus que estou só... que formosa noite!... Que grandioso espetáculo! Parece que a mão caprichosa da natureza se comprouve em acUmular as mais pitorescas belezas nesta formosa baía. Que felizes se devem julgar os que vêm naquele barco. (Aparece Um barco com alguns personagens.) Como desliza sereno... Mas que vejo... Vai se engolfar na ressaca. (Gritando.) Metam o leme d’encontro. (O barco bate nas pedras.) Desgraçados!... Socorro!

Cena IX editar

O mesmo e Anjo da Humanidade


Espectador - Salvemos aqueles desgraçados.

Anjo da Humanidade - É tarde!

Espectador - Oh! meu Deus!

Anjo da Humanidade - São duas famílias de intrépidos trabalhadores riscadas do número dos vivos! oremos por elas.

(Mutação)

Quadro VIII editar

Sala com alguma mobília e Uma cama

.

Ouve-se sons marciais de Uma banda e vivas fora. Está em cena Um Criado (General, no original,riscado e alterado em função da censura da época.) muito cansado e de mala em punho e Um saco de dinheiro com este letreiro: 10:000$000 Réis. Traz na cabeça Uma coroa de louro.

Cena X editar

Criado, Poeta, Orador, e 1º e 2º Repórter


Vozes Fora -Viva o valente, viva o bravo, viva a nação, viva!

Criado (Dirigindo-se para o público.) - É isto! (Vem descendo; novos vivas.) E não há meio de descansar Um Homem que tanto trabalhou em honra da pátria. tem sofrido mais neste pouco tempo que os cinco anos de batalhas e privações. (Vem descendo, novos vivas.) Ah! Parece que finalmente o deixaram tranqüilo! Deus queira que assim seja! Já me parece maçada. (Põe o saco de dinheiro a Um canto.) Decididamente a glória é coisa muito incômoda.Já lhe chimparam nas barbas cinco dúzias de poesias, e outros tantos discursos. Está imortalizado em prosa e em verso. É a única desculpa desses maçantes poetas e arengadores: supõem-no imortal e, como tal, isento das conseqüências da mais tremenda das amolações! Como se enganaram! Mas agora julgo que está livre deles! Amém! (Pega nUma bota do General e caem de dentro poesias.) Até dentro das botas estão flores e poesias! (Atira com a bota.)

1º Repórter (Metendo a cabeça por Uma das portas e tomando nota.) Descalçou Uma bota. (O Criado espirra.) Espirrou. (Desaparece.)

Criado - Hein? Então não estou constipado!

Poeta (Entreabrindo a porta.) - Dá licença, General?

Criado - Quem é?

Poeta (Desdobrando Uma enorme tira de papel.) - Ó tu, soldado imortal!

Criado - Então! lá vem a imortalidade.

Poeta (Continuando.) - que vens coberto de glória visitar a Guanabara. Onde te espera a vitória!...

Criado - Tenho notado que Todos estes poetas rimam glória com vitória.

Poeta - Escuta a voz de Um poeta...

Criado - Tenho a prevenir a Vossa Senhoria que eu não sou o General, mas sim Criado do Hotel.

Poeta - Oh! Onde está então Sua Excelência?

Criado - A descansar.

Poeta - Então faça o favor de lhe entregar estes versos: têm a minha assinatura. (Dá-lhe os versos e sai fazendo grandes mesuras.)

Criado (Pega a outra bota e caem versos de dentro.) - É isto! mais poesia nas botas! E eu, para vingar-me, meto as botas nas poesias! São detestáveis. (Tira o casaco e aparece Um Orador.)

Cena XI editar

Os mesmos e o Orador


Orador (Entreabrindo a porta.) - Dá licença, general. (Entra e tira Um papel do bolso.)

Criado - Outro!

Orador - César, Anibal, Pompeu, Alexandre, Napoleão e outros quejandos heróis das eras antigas, médias e vindouras não tinham nem o teu valor nem as tuas virtudes. Eles eram usurpadores, e tu não! Tu empunhaste o gládio em prol da absoluta liberdade, e alUmiaste a consciência nacional com os clarões de teu valor! (O Criado tosse.)

2º Repórter (Saindo debaixo da cama.) - Tossiu!

Orador - Imortal...

Criado (Querendo falar, sem poder.)- Tenha a bondade de deixar ficar o seu discurso. Quero poupar-lhe o trabalho da leitura.

Orador - General, eu não entrei ainda em matéria! O melhor ainda não li.

Criado - Bem vejo que isto promete. Mas o que eu quero prevenir ao senhor é que o general ainda não o ouviu.

Orador - Não! (À parte.) Então é surdo! Esta é que eu não sabia. (Gritando.) - César, Anibal...

Criado - Eu não sou surdo.

Poeta - Então não percebo.

Criado - Pois ainda não percebeu que eu não sou general, nem alferes? Olhe, Sua Excelência está descansando. Se quer, deixe ficar o discurso, que eu lho entrego. (O Orador entrega o discurso e sai com grandes mesuras.)

Criado (Só.) - Safa. Este é pior que Todos. Tratemos de dormir, antes que venha outro em prosa com versos. (Criado abre a boca e entra a bocejar até adormecer.)

1º Repórter (DUm lado.) - Deita-se!

2º Repórter (Do outro.) - Adormeceu.

Criado (Sonhando.) -... Basta. Basta. De cá, eu guardo!... Então o General anda de carro sem cavalos!... Ele vai carregado à mão!...

O Poeta do Prólogo (Entreabre a pasta.) - Com sua licença. (Desenrola Uma tira de papel e lê.)

Se eu fosse Um vate de inspirada Musa,

Se a lira de Camões tivera,

assim, neste dia, tuas grandes glórias,

tuas vitórias eu cantar quisera!

Pintor se eu fora de gentil pincel,

mago painel esboçaria...

(Criado ressona)

- Ah! Dorme! pois espera! (Guarda os versos e percorre a cena.) O que é isto? Um saco de dinheiro! Dez contos de réis! Olé! Olá! (Carregando com o saco.) Ora! Tu estás coberto de louro! não precisas de louras... (Sai.)

Criado (Sonhando.) - Assim, General! Às armas! Às armas! Fogo! (Um Admirador, à palavra “fogo”, assusta-se e cai.)

Cena XII editar

Os mesmos e Uma Comissão


Um Admirador - Bravo! General!

Criado (Acordando sobressaltado.) - Quem é? Quem é?

Admirador - A Comissão!

Criado - A Comissão! (Salta da cama.) Eu vou prevenir Sua Excelência.

Admirador - Dá licença! Ela aí vem! (Começa a aparecer Uma enorme lança, que atravessa a cena de lado a lado. Só depois de ter a lança desaparecido em meio por Um lado, aparecem as personagens que seguram no cano pelo outro lado. Admirador, ensaiando-se.)

Em honra de teus feitos, ó soldado,

vencedor! vencedor! gênio imortal,

esta lança te dão alguns sujeitos

Em prova de muita consideração, ó General.

Outro Admirador - Este último verso está mais comprido do que a lança.

Admirador - O que abunda não prejudica.

Criado - Sua Excelência pede o obséquio de passarem à outra sala, onde os espera a Todos. (Todos saem.)

Todos - Viva o nosso herói!

Quadro IX editar

Cena XIII editar

(Vista de rua. os personagens de costUme enchem a rua.)


Garden, só


Garden (Velho americano encostado ao portão fUmando.) - Oh! Este é o verdadeiro felicidade deste vida. Estar sempre tranqüila, ganha dinheiro, dá boa divedendo, serve perfeitamente o público flUminense e mora nUma chácara por onde ninguém pode passar para que eu arremata privilégio... Casa esta muito minha.

Cena XIV editar

O mesmo e Zé Povino


Zé - Oh! Monsiú... Vossa Senhoria dá licença que eu passe por cá?

Garden - O que você quer faz? Se quer, vai em novas trilhos... faz favor, volta seu caminho.

Zé - Nada, não senhor, vou no trilho de minha mulher, que depois de velha deu em gaiteira. Consta-me que ela está lá da outra banda, e, como o caminho mais curto é este...

Garden - Você pode passa, mas dá cá Uma níquel de duzentos réis...

Zé - Se essa é a dúvida.. aqui tem; posso passar?

Garden - Passa pode. (Zé sai.)

Cena XV editar

Garden, Vila Bela, depois Povo


Garden - Este Homem está muito minha conhecida. É Mister Zé Povinho. Mim tem-se dado perfeitamente com ele.

(Entra a de Vila Belle seguida pelo povo.)

Vila - Deixem-me! Deixem-me! Ó da guarda!

Garden - O que é isso? Não pode passa!

Vila - Senhor Garden. Vossa Senhoria é que vai decidir.

Garden - O quê?

Vila - Eu, como não ignora, estabeleci nos meus carros Um sistema de cobrança que consiste em se pagar a viagem a pouco e pouco. Não quero sobrecarregar as algibeiras dos meus passageiros... quero dizer, dos meus condutores: à maneira que se vai andando, vai-se pagando. Recebe-se a passagem em prestações e a última é quando o carro vai para as estações. Ora, estes senhores, isto é, o Povo não quer. Vim, pois, perguntar-lhe o que o senhor faria no meu lugar.

Garden - Mim não sabe o que faria... faz sempre o que pública quer... eu tenho passagens de oitenta mil réis, de cem, de duzentos, de trezentos, Uma pataca - de pataco não tem - tem só duma cruzada e mim só faz Uma cobrança - e meu pública está muito contenta.

Povo - Apoiado! Muito bem!

Vila - São sistemas americanos que não servem para o Brasil... Eu adotei o sistema austríaco, que é o melhor.

Garden - Oh! Sistema americano está muito boa. Não está só em bondes, mas em tudo desta vida. Olha, ali vem dentista americano; pergunta se seu sistema de extrai dentes no está very well.

Cena XVI editar

Os mesmos, Dentista, Uma carro encarnado, espelhado e dourado, mal entra, o povo cerca-o


Um Popular - Viva o Dentista!

Povo - Viva!

Popular - Viva o nosso doutor! O nosso Salvador, que arranca por favor, nossos dentes sem dor!

Vila (À parte.) O que vale é que a Opinião pública distrai-se facilmente!

Dentista - É tal senhores, o alegrão

em que este bom povo está imerso,

que até falar só me faz, não

em chata prosa... mas em verso...

Vila - Ui! (Vai ao dentista com o boca aberta.) - Como o povinho me fez parar o bonde, nUma corrente de ar... apanhei Uma dor de dentes. (O Dentista tira-lhe Um dente.) Não é esse, desgraçado!

Dentista - Já cá está!

Vila - Você tirou-me o dente do siso. (Saindo.) Ora o que há de ser duma Companhia sem o dente do siso?...

Cena XVII editar

Os mesmos, Boato e Opinião


Opinião - Mas para que tomaste esse disfarce?

Boato (Vestido de urbano.) - É o meu fato predileto... E, de fato, é Um fato cômodo... por tal sina, que nunca pára na cômoda.. quero prender este indivíduo. (Aponta para o Dentista.)

Opinião - Mas o que te fez ele?

Boato - O que me fez? (Neste momento o Dentista tem arrancado dente e queixo a Um Homem do povo.) Está preso!

Popular - Ai! ai!

Dentista - Foi sem querer?

Boato -Está preso, já disse...

Dentista - Preso por quê? Por ser infeliz nUma operação... por que não prende você por dia cinqüenta ou sessenta Médicos!

Boato - Não sei cá disso... dizem que você não está examinado.

Dentista - Veja... E pela Imperial Academia. (Apresenta-lhe a licença.)

Boato - Pois sim... mas à cautela, venha para a chácara de CatUmbi. (Sai com o povo.)

Cena XVIII editar

Opinião, Espectador


Opinião- Então, não se vai e....e não me deixa... assim se abandona a Opinião a si própria?

Espectador - Ora, até que a encontro! O que tem feito? Onde está seu marido?

Opinião - Eu sei lá!... Ah! Que se o apanho...

Espectador - Se quer, procuremo-lo... pouco tenho que fazer.

Opinião - Aceito!... Mas para que lado iria ele?

Espectador - Isso agora é que era adivinhá-lo.

Opinião - Que pena não termos a Santinha aqui à mão...

Espectador - Assim é melhor, porque poupa esse dinheiro.

Opinião - Que se me tem ido de vento em popa por água abaixo por causa da proa do senhor meu marido... Um chaveco avariado que faz água por Todos os lados... e que ainda se mete na prosápia de correr com todo o pano na alheta de qualquer fragatinha.

Espectador - Bravo!... Chama-se a isso linguagem pitoresca marítima!

Cena XIX editar

Os mesmos, Garden, depois Cocabana


Garden - Estar boa tarde, senhores.

Opinião - Vossa Senhoria viu, por acaso, passar por aqui?...

Garden - Oh! Eu vi mas não sabe... (Neste meio tempo tem entrado Cocabana, que, sem Garden ver, vai entrando na chácara.) Oh! Senhor... que faz vossemecê aqui?

Cocabana - Vou passando... não vê?

Garden - Vejo, mas não quero! Vossemecê sabe que mim tem o privilégio desta chácara...

Cocabana - Mas eu tenho a minha casa do outro lado, e, como me dá menos trabalho ir por aqui, pouco ou nenhUm caso faço do seu suposto privilégio.

Garden - Vossemecê não passa.

Opinião - Não pode passar sem licença.

Espectador - É questão que deve ser pacificamente decidida nos tribunais!

Garden - A ele vou! A Senhora Opinião há de ser minha testemunha...

Cena XX editar

Os mesmos, Zé, depois Boato


Zé - Não a encontrei,

Garden - Vem cá, Homem serve também de testemunha...

Opinião - Ai, o patife do meu marido...

Zé - A pérfida da minha mulher...

Cocabana - Cá os meus tribunais são estes. (Apita.)

Boato (Vestido de urbano.) - O que temos?

Cocabana - Quero passar, e este senhor não me deixa.

Boato (Desembainhando a espada.) - Quem tem razão?

Espectador - Saiba Vossa Senhoria que Ambos se julgam com ela, e só os tribunais...

Zé e Opinião (A Uma lado.) - É para onde vamos.

Garden - Oh! Yess.

Boato - Nada de bulha. (Ao Espectador.) Quem lhe pediu explicações?... Está preso... (A Garden.) E o senhor, deixe passar a mulher, quando não!

Garden - Ah! Isto é muito mal feito... Eu vai faz bulha na imprensa...

Boato - Faça a bulha que quiser. Vossemecê, como não tem escrúpulos, vá passando. (A Cocabana vai passando.)

Opinião (Passando à esquerda.) - Eu também vou discutir para a imprensa o procedimento do senhor meu marido...

Zé - E eu, o da senhora minha mulher...

Espectador - Mas por que vão?

Boato (Ao Espectador.) - Deixe-os ir... vamos para o xadrez.

Espectador - Esta só a mim acontece...

Todos - À Imprensa! (Saem.)

Mutação

Quadro X editar

Cena XXI editar

(Sala, o Jornal do Commércio e o Diário do Rio entram trazendo nos braços o Diário Popular moribundo.


Jornal do Commércio - Tragamo-lo para esta sala! Pobre pequeno! Tão novo!

Diário do Rio - Quatro meses apenas!

Jornal do Commércio - Também é bem feito. (Depõe o Diário Popular sobre Uma cadeira.) Já não há crianças. Este pobre Diário Popular quis principiar por onde os outros acabam! E eu, para chegar ao ponto que estou, meu caro colega Diário do Rio, eu, para ser Jornal do Commércio, para gozar das mil imunidades, com a graça de Deus e dos quinze mil assinantes, principiei assim... depois fui assim... assim... assim... assim... assim... É melhor do que começar assim... e depois ir assim... assim... assim... assim... e desaparecer!

Diário do Rio - E eu não posso falar assim, porque sou político... todavia reconheço que estes meninos nascem e querem logo ter correspondentes em toda a parte... querem ter sobrado na rua do Ouvidor.

Jornal do Commércio - Nada; eu principiei por onde devia principiar; pelo princípio; por isso é que, como o outro, Leonardo, soldado bem disposto, Cavalheiro, enamorado, também faço o que posso, não vê?! Tenho lá na redação uns gênios, uns astros... Que astros!

Diário do Rio - E eu então! Eu sou aquela sanha! Onde meto a mão, ou mesmo, meto o pé, que sanha! E tenho Um redator que é Uma pimenta.Lá pimenta é. Ou por outra... pimenta lá é!

Diário Popular (Despertando.) - Ai! (Jornal do Commércio e Diário do Rio aproximam-se.) Dêem-me... remédios...

Jornal do Commércio (Vai a Uma mesa, traz alguns frascos de remédios. Lendo as etiquetas.) Assinaturas... (despejando o frasco nUma colher.) Nem Uma gota!... (Tomando outra frasco e lendo.) Acionistas... (Mesmo jogo.) Nana! (Tomando outro frasco.) Anúncios... (Mesmo jogo.) Qual!

Diário do Rio - Esgotaram-se os últimos recursos.

Jornal do Commércio - Pobre Diário!

Diário do Rio - Pobre xará! Tão bom... tão espirituoso...

Diário Popular - Agra!... Agra!.... Agra!... Agradecido.

Jornal do Commércio - Coitado! Está a morrer e não diz senão agra... agra... agra....

Diário Popular - Agra... agra... agra... agradecido!

Diário do Rio - Já aborrece tanto agra!

Diário Popular (Berra como carneiro.) Ré!... Mé!.... Dio!....

Jornal do Commércio - E, de vez em quando, dá-lhe para berrar como carneiro.

Cena XXII editar

Os mesmos e Filipe


Filipe - Bom dia... Bom dia... Então como vai o doente?

Diário do Rio - Pode dizer - o moribundo...

Filipe - Se querem, mando chamar por telegrama o meu mano d’Araraquara para prestar-lhe os últimos socorros...

Jornal do Commércio - Qual, meu Filipe... de outros socorros precisava ele...

Globo (Pondo a cabeça da parte de fora.) - Posso entrar?

Diário do Rio - Quem é?

Filipe - É o Globo,

Jornal do Commércio - Entre, colega. (Globo entra.) Oh! Você diminuiu? Ainda há três dias era alto. (Baixo a Diário do Rio.) É o outro que tal!

Globo - Mudei de formato, para ser mais cômodo aos meus leitores... e por haver muito mais comodidade de preço...

Diário do Rio - E como vais de saúde?

Globo - Assim... assim... os passeios de manhã faziam-me mal... resolvi sair às tardes... E o colega? E este pobre Diário Popular como vai?

Diário do Rio - Eu assim assim... Estou sentindo Umas coisas... não será isso velhice?

Globo - Qual - Você está a lavar e durar. E Este pobre Diário Popular, como é que vai?

Filipe - Isto está por momentos, coitado: está a exalar o último salpico... quero dizer, o último suspiro!

Jornal do Commércio - Este Filipe é chamado para o calemburgo.

Filipe - É, não se pode dizer que este não tenha sal nem pico.

Diário do Rio (Ao Globo.) - Como vamos de redatores?

Globo - Tenho lá alguém, Um que em tino não deixa nada a desejar, dou sempre belos frutos aos leitores.

Filipe - Dás mais que frutos: dás boca e uva.

Jornal do Commércio - Este Filipe é os meus pecados. E então hoje parece que estamos em sexta-feira.

Diário do Rio - Aí volta... Resigna-te, xará, vais encontrar lá no céu o Mosquito, o pobre Mosquito. Ambos vocês gozarão da bem-aventurança eterna.

Diário Popular - Agra... agra... agra...

Jornal do Commércio - Aí vem o Agra!

Diário Popular - Agra... agradecido!

Globo e Filipe - O que é isto?

Diário do Rio - Só do agra... agra...

(Entram A Reforma e o Jornal da Tarde a disputar.)

Jornal da Tarde - O Ministro fez muito bem!

Reforma - Não fez tal. É Um corrupto. É Um tolo!

Jornal da Tarde - Tola é ela!

Reforma - Miserável!

Jornal da Tarde - Regateira!

Reforma - Olha que te esmurro!

Jornal da Tarde - Ah! Ele é isso? (Querem atracar-se.)

Jornal do Commércio - Então, o que é isso? Olhem quem está ali moribundo...

Jornal da Tarde - Vim visitá-lo.

Reforma - Eu também...

Jornal do Commércio (A Filipe.) - Quem é aquela sujeita?

Filipe - É a Reforma. Pois não conheces?

Jornal do Commércio - É que enxergo mal. E aquele moço que entrou com ela?

Filipe - É o Jornal da Tarde. Esse não admiras que não conheças, porque é novo... É novo, ele é o que diz... A mim não me embaça... (Em segredo.) É a Nação...

Diário do Rio - A nação?

Filipe - É a nação disfarçada de Jornal da tarde... Não vês que é Uma mulher vestida de Homem?

Diário do Rio - Eu logo vi, pelo palavreado, que não podia deixar de pertencer ao belo sexo. (Indo ao Jornal da Tarde.) Está conhecido.

Jornal da Tarde - Oh! Colega, toque lá estes ossos... Então não se esqueceu de mim?

Diário do Rio - Posso lá esquecer quem combate pelos mesmos princípios...

Jornal da Tarde - Você agora está muito bonito!

Diário do Rio - Depois que morreu meu antigo patrão, enfeitei-me todo, não vê!

Reforma (Sentando-se.) Ontem não houve sessão na Câmara Temporária?

Diário Popular - Agra... agra... agra...

Reforma e Jornal da Tarde - O que diz ele?

Jornal do Commércio - É Um estribilho que já nos tem maçado deveras! Não diz outra cousa: é agra para cá, agra para acolá.

Filipe - Isto não é nada agra...dável.

(Entra a Gazeta de Notícias.)

Cena XXIII editar

A Gazeta e os mesmos


Jornal do Commércio - Oh! Menina Gazeta, como vai?

Gazeta - Adeus, honrado colega... Meus senhores! Ó Reforminha, viva!

Todos - Adeus, Gazeta!

Gazeta - Como vai o pobre Diário?

Diário do Rio - Deixa-o: está descansando... Não lhe bulas, senão dá-nos aí com o agra, que é Um nunca acabar.

Reforma - Então, como vais tu por lá, ó Gazeta?

Gazeta - Muito bem... Ultimamente então tenho sido muito procurada por causa dos folhetins de costumes... do França!

Jornal da Tarde - Ora, quem quer saber os costumes da França?

Gazeta - Não são da França...

Filipe - São do França Júnior.

Jornal da Tarde - Ah!

Cena XXIV editar

Anglo Brazilian Times e o Gil Blas aparecem


Anglo - Muito belos folhetins que mim traduz para a língua inglesa... Esta cosse muito apreciada n’Ingliterre. Good morning!

Jornal do Commércio - Ora viva o seu Anglo Brazilian Times

Anglo - Como passe o Popular Diário?

Diário do Rio - Está sossegando... Não lhe toque senão vem aí o Agra...

Anglo - Oh! Yess.

Gil Blas - Messieurs e medames, bonjour... Ce bon Diário Popular?

Gazeta - Oh! Espirituoso Gil Blas... como vais?

Gil Blas - Pas mal... pas mal... Mais le confrére?

Gazeta - Está aqui, está com os Anjos.

Gil Blas - Ah! Pauvre garçon!

Cena XXV editar

República e os mesmos


República (Entrando.) - Eu sou a jovem República. Sabia que estáveis aqui reunidos e vinha pedir-vos que protestásseis contra o abuso da Polícia!

Diário do Rio - O que fez a Polícia?

Jornal do Commércio - Pois há razão de queixa contra Polícia?

República - Sai a passeio e prenderam-me sem motivo. Deveis protestar.

Reforma - Deixe estar, que o negócio fica por minha conta. Que situação!

Cena XXVI editar

Os mesmos, Jornais Caricatos e Imprensa


Jornais Caricatos - Onde está o Diário? Queremos vê-lo! Queremos vê-lo! Onde está?

Todos - Pouca bulha...

Diário Popular - Ai, ai... (Cercam Todos o Diário Popular. Passa o Apóstolo a jogar pena com o Ganganelli.)

A Imprensa - O que é isto?

Todos - A Imprensa?

A Imprensa - Sim, a Imprensa, que recebeu agora a notícia de que estava para morrer aqui Um filho que lhe dava tantas esperanças! Pobre Diário Popular! Tão novinho! Que dor a minha: imaginem que acabo de ver morrer um, e venho assistir à Morte de outro...

Filipe - Ah! Sim, o mundo é assim...

Jornal do Commércio - Este Filipe é danado!

Diário do Rio - E quem foi o outro?

Imprensa - O Psit! Morreu, coitadinho!

Jornal do Commércio - E a Rola?

Imprensa - Ah! O A Rola, esse não morre nunca. É do tipo eterno! Pois se foi o A Rola que matou o Psit!

Diário Popular - Ai... ai... agra... agra... agra...(Expira.)

Todos - Morto!

Filipe - Morreu... e mais o Neves.

Imprensa - O que me consola é que estou de esperanças... Em 1º de janeiro darei luz à o Cruzeiro, e então, verão vocês o que é Jornal... Bom e de peso. Vamos enterrar o pobre Diário.

Todos - Vamos! (Saem levando o cadáver.)

Cena XXVII editar

O Anúncio


O Anúncio - Vantagens quase bancárias. O Dudu vende relógios de outro a três mil e quinhentos réis a oitava e recebe no fim de Um ano a quatro mil réis. À Rua da Quitanda, casa do galo que canta. (Vai saindo e volta.) Esquecia-me de dizer que a cerveja Cristiana é a melhor cerveja nacional e que a Aída é Um batoque. (Sai.)

Cena XXVIII editar

Zé Povinho, Opinião, Garden, depois Boato


Zé - O senhor... Não está ninguém em casa... Onde se meteriam estes tipos da imprensa?...

Opinião - Estão talvez na tipografia...

Zé - Ora os tipões.

Garden (Entrando.) - Estar só?...

Boato - O que pretendem?

Todos - O senhor aqui?

Boato - Eu estou em toda a parte...mas o meu lugar predileto é na imprensa... imprimo Um cunho especial a certas notícias.

Opinião - Você o que é, é Um clichê!...

Boato - Sai-te daqui, meu pastel.

Zé - Chamar pastel à minha mulher... se repete a chalaça, vai a Um granel de bofetões a menos de real...

Boato - Eu justifico-me...

Zé - Não quero ouvir nada... Onde está o dono da casa?

Boato - O que pretendem?

Garden - Eu quer tratar de questão... com outra Companhia...

Zé - E eu, certos negócios de família...

Boato - A Senhora Dona Imprensa não pode encarregar-se dessa questão... vou mandar-lhes chamar o meu colega a cargo de quem estão esses negócios.

Opinião - Então que venha o colega...

Cena XXIX editar

Os mesmos e A Pedido


A Pedido (Com Uma bolsa na mão.) - Às suas ordens... a cento e vinte réis cada linha de quarenta letras... e mais dez mil rés para a responsabilidade...

Zé - Quanto me pode custar? (Fala-lhe ao ouvido.)

A Pedido - Isso é carito...

Opinião (O mesmo.) - Por quanto me pode ficar?

A Pedido - É puxadito...

Garden (Ao A Pedido.) - Vem cá, senhor.

Zé - A senhora é que tem culpa de tudo isto com os seus caprichos...

Opinião - E você?

Zé - E se nós fizermos as pazes?

Boato - O quê?

Zé (A Boato.) - Sai-te daqui para fora...

Opinião - Eu não faço as pazes nem que você me vista do novo dos pés à cabeça.

Boato - E eu sei onde há excelentes e baratíssimas popelines.

Zé - Vamos daí.

Opinião - Está dito. (Vão a sair os três.)

A Pedido - Ó senhores? ... Venha cá... eu faço abatimento.

Zé - Adeus, meu amigo, desta vez não tem freguês... Contente-se me viajar por Macaé e Campos, ou entretenha-se com os teatros. (Saem.)

Garden - Está dito então...

A Pedido - Não tem nada... Vossa Senhoria merece-me toda a confiança...mande os originais.

Garden - E se tribunais não faz nada?... se imprensa no dá resultado?... Oh! vai faz questão séria.


(Sente-se Uma salva de vinte e Um tiros e, em seguida, grande confusão de jornais. A Imprensa, Todos os personagens percorrem a cena alvoroçados, gritando.) Chegou Sua Majestade.


Imprensa - A mim Todos. Chegou o momento de saudar o chefe do Estado. Vamos e provaremos assim, como o Brasil sabe honrar o seu primeiro cidadão, e sejam os nossos vivas ao Imperador a manifestação do nosso amor pela pátria.

Uma Voz - Vivam Suas Majestades.

Todos - Vivam! (Saem.)

Cena XXX editar

Entram Política, Boato e a Opinião


Boato (Ouve-se o Hino Nacional em surdina. Política entra quase desfalecida encostada ao Boato.) - O que tem? Por que treme?

Política - Não sei, nem mesmo posso explicar o que senti ao ouvir aquela salva. (Torna a si e passeia agitada.)

Opinião (Ao Boato, espreitando.) - É muito bem feito! Então entendia que era só fazer gastar dinheiro ao meu marido e nada mais...

Política (Que tem passeado agitada.) - Aquelas notícias pelo telégrafo! Vamos, nada de desânimo! (Grande vozeria.)

Zé (da esquerda, correndo.) - São eles, chegaram; estão desembarcando; corramos a vê-los e a ver as festas. (Saem correndo à esquerda.)

Política (A só.) - E eu a mudar de trajo.

Quadro XI editar

Grande festejo a Suas Majestades Imperiais

Arco triunfal da Rua Direita.


[(Fim do 2º Ato)]