Quadro XII editar

Cena I editar

(Vendedores e Povo, Coro de Vendedores. Segue coro de Povo.)


Boato - Como está tudo deslUmbrante! Só não compra quem não quer. E digam lá que a cidade do Rio de Janeiro não possui a flor da gente para o negócio! Eis-me no meu elemento. Gente! Muita gente é o que eu quero! (A Uma dama que passa.) Dizem que seu marido a atraiçoa...

dama - Isso é Uma calúnia...

Boato - Talvez... mas há vizinhos que o afirmam...

dama - Se fosse verdade... (Retira-se.)

Boato (A Um Padre.) - Posso dar-lhe os parabéns?

Padre - Por quê?! (À direita.) Passe bem...

Espectador - Por cá! Saiba que ainda não me pude safar daqui!... Olha que já é estopada!

Boato - Ora então cuida que se não sabe tudo!

Espectador - Tudo?... O quê?...

Boato - O namoro com Uma figurante da revista... Uma rapariga toda chique que não ganha nada... e só no costume gastou para cima de dois contos de réis!

Espectador - Pois o senhor julga-me capaz dUma asneira dessas?

Boato - Pensa que a não vi!... (Faz a cena cômica mudas do namoro.)

Espectador - O senhor está zombando comigo.

Boato - Tanto como este cavalheiro... (Passa Um Médico.) A... quem vou dar os parabéns...

Médico - A mim?

Boato - Corre que foi Vossa Excelência o primeiro colocado no Concurso de Retórica e Medicina...

Médico - Não me dá novidade nenhUma... isso eu já sabia.

Espectador (À parte.) - Talvez antes do concurso.

Boato - Assistiu?

Espectador - Não pude. Boato - Pois perdeu, porque há muito que se não reúnem seis talentos tão belos... Safe-se... lá vem ela.

Espectador - Ela quem?

Boato - A Amarela, a amiga do Filipe e do Barão do Lavra-deus! Estamos no fim do ano e não quer deixar de nos vir fazer Uma visita. (A Febre Amarela passeia por entre os grupos. Entra Um Engraxate.)

Engraxate - Engraxate... senhores.

Espectador - Lustra-me esse verniz!

Febre Amarela - Para que está dando o que fazer ao pequeno... Vem comigo...

Espectador - Suspenda!

Febre Amarela - Não posso... está rijo demais para o deixar por cá. (Leva o pequeno.)

Espectador - Que desgraça!

Boato - É Um flagelo livrando-nos do outro.

Espectador - Mas por quê não lavam e asseiam estas crianças e as não empregam nUm trabalho útil?

Boato - os senhores deles não querem.

Espectador - os senhores... Pois ainda temos escravatura branca no Brasil?...

Boato - No Brasil, não... Quem as vende são os pais... lá na Europa.

Espectador - Não é possível!

Boato - Pois se quer certificar-se da coisa, leia as Cartas romanas, do Guimarães Júnior, publicadas em folhetins da Gazeta de Notícias, e verá se isso é ou não verdade.

Espectador - E o que faz o governo?

Boato - Ver se se segura no balanço, conforme pode...

Um Homem Gordo (À boca.) - Vossa Senhoria, como bom católico, quer concorrer?

Boato - Para quê?

Homem - Para a compra dUm capacete.

Boato - Para quem?

Homem - Para o senhor bispo... Pode lembrar-se de ir pregar outra vez a Santa Rita como no ano passado, e é bom achar-se prevenido para todas as eventualidades...

Espectador - Mas ouvi falar nUma mitra.

Homem - Por fora!

Boato - Pois Deus o favoreça, irmão... nós somos mitrados demais para cair nessas.

Homem - Paciência... Iremos a outra freguesia... (Sai.)

Espectador - Que maçada!... hein!... Deixaram-nos sem camisa as tais subscrições!

Boato - Lá vem dois indivíduos por quem esperava.

Espectador - Bem sei... Zé Povinho e a Opinião... O senhor tem-se portado mal com ela... procurando estabelecer a desordem no lar.

Boato - A culpa é da minha particular amiga, a Política.

Espectador - Pois faz a sua amiga muito mal.

Cena II editar

Os mesmos, Opinião e Zé Povinho


Opinião - Vês, meu tonto... como isto aqui é bonito... É mesmo Um paraíso.

Zé - Para ti... para as minhas algibeiras vai ser provavelmente Um inferno.

Boato - Vou ter com eles.

Espectador - Antes diga-me Uma coisa que ando há muito para saber. (Descem e conversam baixo.)

Opinião - Olhe que lindas popelines.

Vendedor - E mais baratas do que em qualquer outra parte. (os outros Vendedores tossem Todos.)

Zé - Que diabo de catarral é este?

Vendedor - Inveja... Vejam como essa é bonita... Veja contra abanda de luz para apreciar o fio...

Zé - Bom fio...

Vendedor - Desafio a quem vender mais barato e melhor! (Vendedores tossem.)

Zé - Mas o que tem esta gente?

Opinião - Deixa-os lá!... Quanto custa o metro?

Boato - É o que lhe digo... A coisa fez Uma bulha... deu que falar, mas afinal de contas...

Zé - Palavra que nunca vi vender tão barato. (Vendedores tossem.)

Vendedor - Se os colegas soubessem como eu administro as fazendas da minha casa, já não tossiam...

Boato - A polícia mandou recolher Todos de que podem lançar mão, e fez bem... Uma coisa não tem nada com a outra.

Opinião - Bem... Não quero mais nada... Para vender barato, não há como...

Boato - Sociedade com Manel... era como Todos acabavam.

Espectador - Nunca doam as mãos da polícia...

Vendedor - O meu Sócio vai à Alfândega despachar mais fazenda, se quiserem esperar. (Sai o Sócio; no meio da cena escorrega. Boato e Espectador amparam-no.)

Espectador - Escorregou?

Boato - Ia caindo.

Sócio - Esta empresa Gari, que deixa as ruas cheias de casca de bananas... Ora que bonita queda... escorregar nUma banana... Safa! (Ao Boato.) Meu querido amigo Boato, já não é o primeiro favor que lhe devo.. (Sai.)

Boato (À Opinião.) - Então já enfeirou?

Opinião - Falta-me Uma corrente para o relógio... Uma corrente para o leque... Uma corrente para o vestido... Uma corrente para o chapéu... E a minha peça toda é que ainda se não tenham inventado correntes para os maridos.

Zé - Era invenção que adotavam logo todas as mulheres velhas...

Opinião - Pois adotava eu, sem ser tão velha como o senhor me quer fazer.

Boato - Então a senhora queria trazer seu marido preso como os papagaios?

Opinião - E por que não?

Boato - Podia lhe acontecer o mesmo que a um papagaio que eu conheci...

Cena III editar

Os mesmos e a Política


Política - Viva a bela reunião! Salve ilustres amigos meus... Parece que me esperavam... tenho aqui, segundo me consta, Um bico d’obra a aviar...(Vendo a casa onde comprou Zé Povinho.) Ah! É ali.

Boato (À parte.) - Deu-lhe o faro e vai pelo caminho mais perto.

Política - Nem sempre vou à França por Tavira. (Encaminha-se para a loja onde aparece o Anjo da Humanidade.)

Anjo - O que pretende?

Política - Quero saber do dono da casa...

Anjo - Nada tem que saber...

Política - Mas eu cUmpro o meu dever...

Anjo - E eu o meu...

Política - Sabe quem eu sou?

Anjo - Sei... E é por isso que lhe digo: respeitem-se os princípios...

Povo - Apoiado! (Anjo retira-se.)

Política - Não encartei a vasa... ficará para outra vez.

Boato (À Política.) - Deixe a coisa por minha conta! (Alto.) Então já sabem que temos crise?

Todos - Crise?

Zé - Bem sabemos... É a crise econômica.

Boato - Engana-se, é crise ministerial...

Zé - Nesse caso, vou-me safando, porque me podem prender para ministro. (Entra Um grupo de velhos.)

Espectador - Aqueles é que são os ministros?

Boato - Nada... São os discípulos da escola noturna, vão ouvir as preleções do Doutor Costa.

Zé - Eu vou também.

Boato - No que sempre aprenderá pelo menos a lavar a casa.

Zé - E depois, se a lavar, quero ir ao teatro

Opinião - E eu também.

Boato - Pois iremos ao teatro.

Quadro XIII editar

Cena IV editar

Qualquer cenário. Ao levantar o pano, a cena está escura. Entram Zé Povinho, Opinião e Política


Política - Olha que estás hoje mais amolado do que... os artigos sobre a Macaé e Campos.

Zé - Por que diabo está isto a escurecer?

Política - Hoje há eclipse da Lua, meu tolo. Olha, falavas dos teatros. Eles aí vem. (Aparecem os teatros. Espectador nUm camarote.)

Espectador - Não! Lá é que não me pilham! Não saio mais daqui. O Vale fica escamado.

Coro dos teatros

Cena V editar

Os mesmos, os Teatros e Um Toureiro


Opinião - Sim, sim; isto é muito cômodo. Em vez de ir a gente aos teatros, os teatros é que vêm à gente.

Zé (Ao São Pedro.) - Quem é você?

São Pedro - Eu sou São Pedro, o mais antigo depois que morreu o meu colega São Januário. Neste ano tenho andado numa faina como não imagina o senhor, mas não tenho feito nada. os três castelos de Espanha foram castelos no ar. As inundações de Portugal não me inundaram de notas. A lâmpada maravilhosa não me alumiou como devia. A filha do fogo pegou fogo. A mulher do saltimbanco foi Uma mulher perdida. Se não fossem A cabana do Pai Tomás e a Jerusalém libertada... O que seria do velho São Pedro?

Espectador - A cabana do Pai Tomás devia ser proibida pela polícia.

São Pedro - Por quê?

Espectador (No camarote.) - Fui ver aquilo e levei comigo os meus escravos. Sublevaram-se Todos! Já não bastava a Lei de 28 de Setembro!

São Pedro - Tive lá Uma Companhia de Lisboa: a que representaram com mais arte foi As intrigas no bairro. O mais... meus amigos, não serviu senão para fazer com que o público lastimasse o caso de Um talento de primeira água.

Zé (Ao Pedro II.) - E o senhor? Quem vem a ser?

Pedro II - Eu sou o teatro Pedro II, o teatro dos extremos, ou o circo dos saltimbancos, ou a sala da grande ópera. Este ano apareceu por lá Uma novidade: as ocarinas sopraram muito, mas não assopraram o público. Depois vieram Fuci, Roles e Mendoros, artistas de primo cartello. Grandes espetáculos a quarenta mil réis por camarote! Lindas óperas, Fausto, Trovador, Aída... Vocês não vieram a Aída?

Espectador - Eu de óperas só conheço A volta de Cogumelo.

Pedro II - Oh! a Aída! A Aída! Que delírio! Que entusiasmo! O Rio de Janeiro era todo Aída! Que furor! A índole deste povo é essencialmente lírica!

São Pedro - Sim, ganhaste muito dinheiro: porém mais hei eu de ganhar com isto. (Tira do bolso Um manuscrito.)

Pedro II - O que é isto?

São Pedro - A viagem ao redor do mundo em oitenta dias. (Mete outra vez no bolso.)

Cassino (Arregalando os olhos.) - Oh! (Empalma o manuscrito. Tossindo e disfarçando, sobe ao pé de Zé Povinho.) Hum... hum... (Dirigindo-se ao Zé Povinho, com volubilidade.) Eu sou o Cassino. Andava dantes maltrapilho e malcheiroso... cheirava a angu. As famílias tinham fugido de mim. os pais não queriam que os filhos me visitassem. A polícia tinha-me os olhos em cima. Andava por lá, apesar de tudo isso, o primeiro cômico nacional... Quando, de repente, Um Homem limpo enfeitou-me, lavou-me, ensaboou-me, almiscarou-me: as famílias voltaram, os filhos obtiveram de novo licença dos pais para visitar-me, a polícia descansou sobre o meu comportamento... Vejam: ando de casaca, gravata branca, chapéu de pasta... Hein? Que lhes pareço?

Espectador - Quem o ouve falar, não o leva preso.

Zé (Ao Ginásio.) - E você quem é, ó pequeno?

Ginásio - Deixe-me, Homem: eu sou Um desgraçado.

Zé - Sim?

Ginásio - Tenho caveira de burro! Não sei o que é! Toda a gente foge de mim. Ninguém me quer!

Neste campo solitário

Onde a desgraça me tem,

Falo - ninguém me responde

Olho - não vejo ninguém.

Andou por lá também alguém e foi de ventas à torneira. Pois se caíram nessa asneira! Quiseram ver se faziam alguma coisa com o Frade Negro...

Opinião - Irra! Frade e negro de mais a mais!

Política - O que é que têm os frades?

Espectador - Lá está a Política a defender os frades!

Ginásio - Nem A porta do Inferno me abriu a do Paraíso! Nem A Irmã do cego... cego estava quem a representou... Nem o Botão d’âncora. Nem nada! Agora vivo entregue aos curiosos... preferia estar entregue à curiosidade... Mas qual! Quem me aparece por lá de vez em quando é a distinta atriz fulana de tal, a fazer benefício, com o concurso do distinto amador...

Todos - Coitado! Pobre Ginásio!

Opinião - E o São Luís onde está? (Ao São Luís.) Agora conte também sua história.

(Ao mesmo tempo.)

São Luís - Apesar de santo como Ginásio - Apesar de ter santos, o São Pedro e de novo como o sem ser santo, e de não ser tão Cassino, sou caipora como o Ginásio novo como o vizinho...

Política - Por quem são, fale cada Um por sua vez; não os ouço...

São Luís - Que quer?... É esta música aqui do lado que nem me deixa ouvir a mim mesmo.

Política - Pois mande parar a música.

São Luís - Não posso. Apesar de lhe ter metido Uma parede de permeio, ficamos sempre de parede-meia.

Política - Pois Senhor Ginásio... Conserve-se agora calado como tem estado depois que se abotoou com o botão.

Ginásio - Que eu julguei ser a minha âncora de salvação.

São Luís - E que ferrou com você à porta, inferi.

Ginásio - Desenganado, recorri finalmente ao patriotismo..

Política - O quê? Pois meteram-me à bulha nos teatros?

Zé - Ora, senhor! Só vejo lágrimas.

Opinião (Ao Alcazar.) - E lá?... Quem é?

Alcazar - Eu sou Santa Isabel.

Pedro II - Olha, morde aqui! Queres passar por Santa Isabel, mas comigo é que não arranjas nada. Tu és, mas é o Alcazar... Podes disfarçar-te como quiseres... hás de ser sempre o Alcazar!

Alcazar - Para que me andas a descobrir? Se aquela gente sabe quem sou, não aparece por lá...

Zé - O que é que nos dá de novo, seu Alcazar-Santa Isabel?

Alcazar - Um drama nacional: A Lei de 28 de Setembro... Não vem?

Zé - Não gosto de semelhante lei... O que há mais?

Alcazar - O casamento da filha de Maria Angu

Todos - Aí...

Santa Isabel - Ah! Não querem nada disto? Vou procurar Um paio que me empreste dinheiro para montar Uma mágica.

Zé - Veja antes se encontra Um mágico que lhe empreste dinheiro para comprar paios e monte Uma venda.

Santa Isabel - O senhor insulta-me!

Zé - Ora vá para o inferno. (À Fênix Dramática.) E a senhora, tão catita, tão levada?

Fênix - Eu sou a Fênix Dramática... Tenho tido bons sucessos, graças a Nossa Senhora do Parto, de quem sou vizinha... Dou Um prêmio a quem provar o contrário, assim como que a cerveja Glória não é a melhor cerveja nacional.O meu empresário sabe onde tem o nariz.

Espectador - Pudera! Um nariz daquele tamanho!

Fênix - Sim, senhor! O que está aí a falar! O meu empresário enxerga Um palmo adiante do nariz!

Espectador - E há de convir que enxerga muito! Um palmo!

Zé (Ao Varietés.) E o menino?

Varietés - Je suis les Varietés

Zé - Ai! mau! Não pode dizer isso em português?

Varietés - Non, mon cher. Je suis tout français..

Zé - Então boa noite. No entende franciú . Não me apanhas nenhUm l’argent. (Ao Circo.) E você, seu gaiato?

Circo - Eu sou o Teatro-circo.

Zé - Ora até que finalmente achei coisa que me sirva! (Abraça o teatro-circo.)

Espectador - É! O Zé Povinho não quer saber senão dos cavalinhos!

Zé - O que me dás para ver? Eu quero coisa boa!

Teatro-Circo - Vais ver. (Mutação. Aparece ao fundo Um pano branco.)

Quadro XIV editar

Sombrinhas


(os teatros arranjam-se dos dois lados da cena.)


Zé Povinho (Admirado.)


Teatro-Circo - Vais ver o Blondin! (Passa pelo fundo o Blondin.) A Speltrini! (Passa a Spelterini.) Tony, o imbecil e Bob, o maluco. (Passam.) A romaria ao Vaticano! (Passa pelo fundo Um trem de ferro e, logo depois, sujeitos a correr atrás dele. Passa depois Um Padre.)

Zé - Dois sujeitos a pancadas?...

Espectador - Aquilo é Um duelo de pau ... e chapéu.

Cena VI editar

Os mesmos e a Arte


Arte (Ao fundo.) - Zé Povinho!

Zé - Pronto! Quem é Sua Senhoria?

Arte - Eu sou a Arte. (os teatros fogem em debandada, e passam com sombrinha.)

Espectador - O Cassino afasta-se: ao que parece despreza a Arte?

Cassino - Já não tenho arte... Trabalho com artes para agradar.

Espectador - E pensas no grande gênero?

Cassino - No grande e espetaculoso... Nisso de ganhar dinheiro sou como Hamlet... To be or not to be

Espectador - Fale-me em português, se quer que o entenda.

Arte - Zé Povinho, vou-te mostrar Um trabalho digno do teu apreço! Olha e admira! (Rompe-se o pano de fundo e aparece o quadro da Batalha de Avaí. Hino Nacional em surdina. Execução da mutação.)

Política (À esquerda, depois do grupo dos teatros.) - Ora! Tem defeitos.

Arte - Poderá não os achar a Política. (Mutação.)

Quadro XV editar

A Imprensa Nacional


Arte - Aqui tens, Zé Povinho, outra obra de arte digna de ti! É Um edifício que honra o país. (A Arte sai.)

Zé - Mas este é mais pequeno que a verdadeira arte. Outro não caberia na porta...

Cena VII editar

Política, Zé Povinho e Opinião


Política - Ficaste embasbacado, meu tolo! Sempre és muito lorpa! Pois, anda daí, vem ver como ressurjo os mortos!

Opinião - Ressurge os mortos! Credo!

Política - Acompanhas-me?

Zé - Como não? Se minha mulher já tivesse morrido é que me não pilhavas lá!

Política - Vamos! (Saem.)

Cena VIII editar

Uma Russa, seguida por algumas pessoas do povo


Russa (Lendo.) - Mais la femme és la más perfeta creatin of the God!

Todos - Basta! Basta! Ó Senhor! Que maçada!

Espectador - O que é isto?

Russa - La femme...

Todos - Basta! Basta! (A Russa continua a falar ao povo, que protesta e foge. Espectador salta ao palco.)

Espectador - Nada! Eu quero saber o que é isto! Não está bem explicado! (Agarra Um Homem do povo que vai saindo por último.) Diga-me: o que é isto?

Homem- É Uma literata lá da Sibéria!..

Espectador - Pois olhe: é bem quente!

Homem - Fez-nos, no Teatro São Pedro, Uma leitura impossível sobre a mulher...

Espectador - E sobre o Homem? Não disse nada?

Homem - Saímos desesperados do teatro, e ela entrou a perseguir-nos. Quero ver no que dá isto. (Sai a correr.)

Espectador - Que diabo de mulher! O que vem a ser isto!

Cena IX editar

Espectador, Um Sujeito e Telefone


Sujeito (Com o fio e a trombeta do Telefone.) Arrede-se, sim, arrede-se! Ando a fazer experiências do Telefone.

Espectador - O Telefone!

Sujeito (Falando pelo telefone.) - Congratulo-me por este melhoramento...

O Telefone - Bem, muito obrigado!

Sujeito - Bem; vou para mais longe. (Sai a correr: pouco depois passa o indivíduo que leva a outra extremidade.)

Cena X editar

Espectador e Conservador (Com Um regador na mão, esbarra no Espectador.)


Espectador - Olá! Não vê por onde anda?

Conservador - Desculpe, que me caíram as cangalhas.

Espectador - Pode-se saber onde vai com tanta pressa?

Conservador - Onde vou?! Pois o senhor não sabe que sou o Conservador?

Espectador - Então não tem podido ser liberal...

Conservador - Tenho poupado o que me tem sido possível... mas o senhor não entendeu... e sou o Conservador do passeio...

Espectador - É bom vadio.

Conservador - Não me entendeu ainda... do passeio...

Espectador- Público... e notório é isso.

Conservador - Vou regar, varrer, podar, limpar, pintar... Tenho pintado o sete, mas obrigam-me agora a pintar a grade...

Espectador - Para agradar, pinte; e para pintar, agrade.

Conservador - Não há remédio! Ergueram a vassoura a altura de Um princípio! - Adeus, adeus, que já está nomeado o Homem do fogo para dar parecer sobre aquilo. (Ouvem-se grandes sopros. O Espectador e o Conservador caem no chão.) O que é isto? (Entra Tufão, e canta a ária do Eólo na Filha do Ar.)

Espectador - É Um Tufão. (Levantam-se.) Não se machucou?

Conservador - Nada, eu sou Um alho...

Espectador (Assobia.) - Alho.

Conservador - Quer vir até cá?

Espectador - Vamos; não tenho que nada que fazer... não sou da peça... (Saem. Mutação.)

Quadro XVI editar

Cemitério


Política, Zé Povinho e Opinião


Política - Eis-nos chegados!

Os Dois - Chegados somos!

Opinião (Assustada.) - Ai!

Política - Conduzi-vos aqui para vos mostrar o meu poder sobre os mortos!

Zé - Até sobre os mortos! A Política é dos trezentos!

Política - Vou ressurgir a briosa Guarda Nacional! Vede e pasmai! (Faz acenos. Com grande susto de Zé e Opinião, entram a sair dos túmulos primeiro - oficiais superiores, depois soldados rasos da Guarda Nacional. Marcha fúnebre que descai em marcha bélica. Grande desfilada.)

Zé - Mas eu já vi esta revista de tropas noutra Revista. (Saem Todos ao som da marcha.)

Cena XI editar

(Entra Um indivíduo embuçado dos pés à cabeça; depois outro; segredam-se. Entram a pouco e pouco outros indivíduos. Segredinhos, etc. A orquestra toca a introdução do Coro dos Conspiradores da Madame Angot; os embuçados preparam-se a cantar, mas dizem apenas psiu e saem, ficando apenas um em cena, que é Boato)

Boato - E finda-se o ano sem que se saiba qual é o novo ministério. (Sai.)

Cena XII editar

Febre Amarela e Canal do Mangue


Febre - É o diabo com botas! Que contas hei de dar de mim? Tu é que tiveste a culpa! Maldito Canal do Mangue!

Canal - Eu! Estou aterrado!

Febre - Meti-me de amores contigo; gastei todo o meu tempo em pândegas, e esqueci-me de matar alguém. É o diabo!

Canal - Mas...

Febre - Vem daí, vem daí, meu sedutor! Agora só para o ano! (Saem.)

Quadro XVII editar

Cena XIII editar

Sala


Opinião e Zé Povinho entram com malas


Zé - Basta de vadiação! Vamos! Vamos!

Opinião - Não percamos nem mais Um instante! Um ano de pândega! (Vão a sair.)

Cena XIV editar

Os mesmos e Anjo da Humanidade (Com algUmas coroas na mão.)


Anjo - Um instante! Antes de partir, venham comigo depositar coroas nos altares dos heróis que engrandeceram a pátria com o talento e as virtudes, e que nos foram arrebatados pela Morte neste maldito ano que finda. Ao Panteon dos Brasileiros, que bem mereceram da pátria. (Saem. Mutação.)

Quadro XVIII editar

Panteon


Pompeu, Pinheiro, Guimarães, Alencar, Gomes de Souza, Zacarias


Anjo- Agora, que acabamos de cUmprir Um santo dever de gratidão saudemos a aurora do ano novo, para que só traga ao Brasil alegrias, progresso e glória.

Apoteose.


(Fim da peça.)


FIM