Sol, coração do Espaço que flamejas,
O coração é qual tu, sol de utopias...
Mas, coração, dize-me: — Que desejas?...
Foram-se já todas as alegrias,
Ó Sol! E tu, coração, que ainda adejas,
Que fazes sobre as mortas fantasias?!...
Podes brilhar, ó Sol, vivo e fulgente!
E tu, coração, que me iludiste,
Também podes bater, inutilmente.
Crença, Ilusão, Amor, já nada existe,
Não mais levarás sobre a corrente
Da tenebrosa dúvida mais triste.
Longe, mui longe, em regiões caladas,
Emudecidos pelo Esquecimento,
Estão hoje esses sonhos de alvoradas.
Foram-se, há muito, soltos pelo vento
Entre as grandes ruínas derrocadas
Do meu amargo e pobre pensamento,
Entre as profundas, tétricas ruínas
Em que o doce fantasma desses sonhos
Atravessou em lágrimas divinas.
Fantasma ideal, de cânticos risonhos
Que da vida encontrei pelas colinas
E hoje vaga entre bulcões medonhos!
Fantasma que eu amei, visão errante
Que sempre junto a mim vivia perto,
Por mais longe que eu fosse e mais distante.
Visão que era como a água do deserto
Para o meu coração sempre anelante,
Sequioso de amor e sempre aberto...
Ó pobre coração, em vão te agitas,
Em vão tu bates, coração estreito,
Tal qual tu, Sol, nos páramos crepitas.
Nada mais, para mim, de satisfeito
Brilha com o Sol nas plagas infinitas,
Como não canta o coração no peito...
Podes, enfim, sumir-te nos Espaços
Sol! E tu, coração, sempre batendo,
Quebrar da terra os "Transitórios Laços,,
Eternamente desaparecendo!...