Oh quanto melhor he o supremo dia

 
Oh quanto melhor he o supremo dia
Da mansa morte, que o do nascimento!
Oh quanto melhor he hum só momento,
Que livra de annos tantos de agonia!

De alcançar outro bem cesse a porfia;
Cesse todo applicado pensamento
De tudo quanto dá contentamento,
Pois só contenta ao corpo a terra fria.

O que do seu fez Deos seu despenseiro,
Tẽe mais estreita conta que lhe dar:
Então parece rico o ovelheiro.

Triste de quem no dia derradeiro
Tẽe o suor alheio por pagar,
Pois a alma ha de vender por o dinheiro!