III.


A CANÇÃO BONNY DUNDEE ACHA UM ECHO NA COLLINA.


Atraz do muro do jardim, em um angulo do muro coberto de azevinho e hera, empachado de ortigas, com um pé de malva sylvestre arborescente e um grande verbasco do mato que brotava do granito, passou Gilliatt quasi todo o verão. Ficava alli inexprimivelmente pensativo. As lagartixas que se iam acostumando a Gilliatt, aqueciam-se ao sol nas mesmas pedras. O verão foi luminoso e suave. Gilliatt tinha sobre a cabeça as nuvens que perpassavam no céo. Assentava-se na relva. Tudo estava cheio de um rumurejar de passaros. Punha a cabeça nas mãos e perguntava a si próprio: «Mas porque escreveu ella o meu nome na neve?

O vento do mar soprava ao longe grandes lufadas. De quando em quando, nas pedreiras longinquas de Vaudue, troava bruscamente a trombeta dos pedreiros, advertindo os passantes de que ia rebentar uma mina. Não se via o porto de Saint-Sampson; mas via-se a ponta dos mastros por cima das arvores. As gaivotas voavam esparsas. Gilliatt ouvira dizer a sua mãe que as mulheres podem amar os homens, e que isso acontecia algumas vezes. Lembrava-se, e respondia a si mesmo; «É isso. Comprehendo. Deruchette ama-me.» Sentia-se profundamente triste. Dizia elle: «Mas tambem ella pensa em mim; faz bem.» Pensava em que Deruchette era rica, e elle pobre. Pensava que o vapor era uma invenção execravel. Não podia lembrar nunca em que dia do mez estava. Contemplava vagamente os grandes zangãos negros, de lombo amarello e azas curtas, que penetram zumbindo nos buracos das paredes.

Deruchette recolhia-se uma noite ao quarto. Approximou-se da janella para fechal-a. A noite estava escura. De repente, Deruchette applicou o ouvido. Havia uma musica no meio daquella noite profundo. Alguem que provavelmente estava na vertente da collina, ou ao pé das torres do castello do Valle, ou talvez mais longe, executava uma canção n’um instrumento. Deruchette raconheceu a sua melodia favorita Bonny Dundee tocada em bug-pipe. Não comprehendeu nada.

Desde então, ouvio ella muitas vezes a mesma cousa, á mesma hora, especialmente nas noites escuras.

Deruchette não gostava muito daquillo.