V.


GILLIATT PÓDE ESCOLHER.


As mysteriosas forças escolheram bem o momento.

O acaso, se é que existe, é habil.

Emquanto a pança esteve guardada na angra do Homem, emquanto a machina esteve mettida no casco da Durande, Gilliatt foi inexpugnavel. A pança estava em segurança, a machina estava abrigada; as Douvres, que sustentavam a machina, condemnavam-n’a a uma destruição lenta, mas protegiam-n’a contra uma surpreza. Em todos os casos, ficava a Gilliatt um recurso. A machina destruida não destruia a Gilliatt. Tinha a pança para salvar-se.

Mas esperar que a pança estivesse fóra do ancoradouro, onde era inaccessivel, deixal-a pôr entre as Douvres, esperar que ella lá estivesse presa tambem pelo escolho, consentir que Gilliatt operasse o salvamento e o transporte da machina, não impedir esse maravilhoso trabalho, consentir nesse triumpho, esse era o laço. Via-se agora, como uma especie de lineamento sinistro, a sombria astucia do abysmo.

Agora, a machina, a pança, Gilliatt, estavam todos reunidos na viela dos rochedos. Eram apenas um. A pança esmigalhada no escolho, a machina mettida a pique, Gilliat, affogado, era negocio de um esforço unico num só ponto. Tudo podia ser desfeito de uma vez, ao mesmo tempo, e sem dispersão; tudo podia ser destruido de um lance.

Não ha situação mais critica do que a de Gilliatt.

A sphynge possivel, que os sonhadores suspeitam estar no fundo da sombra, parecia propor-lhe este dilemma.

Fica ou parte.

Partir era insensato, ficar era medonho.