I
Introducção



Segundo consta (pêlo que, opportunamente, noticiaram jornaes), ora se pretende, mais uma vez na república, substituir ou modificar a bandeira do Brasil. Tendo em vista esse fim, bem como a regulamentação de materia congenere, ha tempos foi apresentado, á Câmara dos Deputados Federaes, um projecto de lei, o qual ainda alli se acha, á espera de «ulterior deliberação» [1].

Ao nosso ver, similhante assumpto, verdadeira e intrinsecamente nacional, é da mais viva relevancia e dum especialissimo interesse. É que se trata do nosso pavilhão, suprema synthese da Patria, «palladio sacrosanto do patriotismo» [2], a cuja sombra todos nós, os brasileiros, nos abrigamos, sem distincção de partidos e de crenças, no cultuar do mesmo symbolo querido! Porque a bandeira nacional (preciso é que se proclame) não representa, privativamente, o estandarte da república, mas, sim, universalmente, a bandeira do Brasil! Deante dêsse labaro sagrado, todas as paixões se livelam, todos os odios se arrefecem! É como a propria imagem da Patria, que se eleva, suspensa, no alto...

Com ser o auctor dêste escripto um brasileiro nato e devotado ao seu paiz, pâra o que lhe assiste um direito, sinão, antes, um dever, julgou, de boa vontade, algo transmittir sôbre o opportuno thema, que interessar pudesse aos demais compatriotas. E eil-as seguem, despretenciosamente, essas considerações que lhe occorreram, fornecidas umas por estudos faceis, resultantes outras de conceitos proprios, na supposição de que, attendendo á importancia da materia, as idéas, que porventura êste trabalho contenha, não cairão assim como as sementes na terra sáfara ...

Quanto ao motivo que nos induz á publicação destas linhas (pâra uns, talvez, demasiado francas, mas, pâra todos, em verdade justas), convem se saiba não nos acaricia ou embala nenhuma velleidade enganadora, e apenas nos domina a gratissima satisfacção, que sincera e vivamente sentimos, de exprimir aquillo que entendemos jámais dever calar, quando se olha ao bem geral do povo brasileiro! E, apresentando êste modesto resultado do nosso esfôrço, vem de molde reproduzir o pensamento do poeta:

«Eu desta gloria so fico contente,
Que a minha terra amei, e a minha gente.» [3]

Notas de rodapé

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  1. Veja-se o Diario do Congresso Nacional, annexo ao Diario Official da União, de 9 de julho de 1905.
  2. Eduardo Prado, A bandeira nacional, São Paulo, 1903, introd., pág. 4.
  3. Antonio Ferreira, Poemas lusitanos, Lisboa, 1829, tom. 1º, pág. 3.