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Nos Sermões, em que se viu obrigado a ceder ao estylo e modos da sua epocha, raro haverá que não offereça rasgos brilhantes de engenho transcendente, em que se revelam os dotes de orador consummado. « Os exordios (diz o bispo de Vizeu) pela maior parte ganham attenção pela substancia do que se faz esperar, declarada com grave comedimento. As proposições são breves e claras, sem o affectado que desfigura as dos melhores prégadores de França, e se repara ainda mesmo nas de Cicero. As occasionaes narrações são todas perfeitas na brevidade completa, na clareza, na opportunidade. As conclusões dos discursos de Vieira são quasi todas rarissimas, e bem proprias da mais sizuda concionatoria christã. »

As Cartas de Vieira são primorosas, versando sobre infinidade de assumptos; e difficilmente se encontra hoje uma collecção completa; o 3.° volume sobre tudo é rarissimo. Os seus Opusculos politicos e historicos dão a medida do seu atilado juizo e profundo talento; e assim como as Cartas offerecem variados modelos do estylo epistolar, os Opusculos ensinam como se deve escrever convenientemente em negocios do regimen do estado; em tudo sempre se divisa a mesma abundancia, a mesma correcção, a mesma graça de linguagem.

Não ha escriptor estrangeiro, que tenha tratado da nossa litteratura com algum conhecimento de causa, que não falle de Vieira com assombro e enthusiasmo. O abbade Raynal na Historia Philosophica das Indias[1]

 
  1. Histoire Philosophique et politique des Etablissements et du Commerce des Européens dans les deux Indes, tom. 2.° pag. 381 e seguintes.