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em gráu sublime todas as delicadezas, propriedades, e energia da lingua; por isso ainda ninguem duvidou usar de vocabulo, phrase e expressão achada em seus escriptos. Seguir sempre em tudo e por tudo o fallar de Vieira é uma segurissima regra de conseguir não só a pureza, mas o louvor de ter todo o conhecimento das subtilezas do idioma portuguez; porque nenhum outro classico temos que escrevesse tanto e sobre tão diversas materias.»

Um escriptor contemporaneo, o fallecido bispo de Vizeu, D. Francisco Alexandre Lobo, tão esmerado na correcção da nossa linguagem, diz na sua Memoria sobre a vida e escriptos de Vieira, que elle nos deixou, além dos primorosos exemplos de Cartas e Opusculos pragmaticos, um monumento admiravel da propria linguagem no corpo completo de suas obras. E accrescenta: — «Se o uso da nossa lingua se perder, e com elle por acaso acabarem todos os nossos escriptos que não são os Lusiadas e as obras de Vieira; o portuguez quer no estylo de prosa, quer no poetico, ainda viverá na sua perfeita indole nativa, na sua riquissima copia e louçania.»

Vieira empregou a linguagem culta e publica, e tambem a familiar e domestica; fallou a dos negocios, a da cortezia, a das artes, a dos proverbios; e como tratou tantos e tão diversos assumptos, póde affirmar-se, fóra de hyperbole, que em suas composições a resumiu toda com felicidade singular. Tudo é casto nos termos, tudo o é na phrase; tudo é proprio, tudo é claro. Ainda quando é mais levantado não ha tão completo idiota que não alcance o seu sentido. Vieira tem a summa habilidade de apresentar imagens pomposas empregando as palavras na sua accepção natural.