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SERMÕES.
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mas da cabeça. O que sáe só da boca, pára nos ouvidos; o que nasce do juiso penetra e convence o entendimento. Ainda tem mais mysterio estas linguas do Espirito Santo. Diz o texto que não se puzeram todas as linguas sobre todos os apostolos, senão cada uma sobre cada um; Apparuerunt dispertitæ linguæ tanquam ignis, seditque supra singulos eorum. (Act. II — 3) E porque cada uma sobre cada um, e não todas sobre todos? Porque não servem todas as linguas a todos, senão a cada um a sua. Uma lingua só sobre Pedro, porque a lingua de Pedro não serve a André; outra lingua só sobre André, porque a lingua de André não serve a Filippe: outra lingua só sobre Filippe, porque a lingua de Filippe não serve a Bartholomeu, e assim dos mais. E senão vêde-o no estylo de cada um dos apostolos, sobre que desceu o Espirito Santo. Só de cinco temos escripturas; mas a differença com que escreveram, como sabem os doutos, é admiravel. As pennas todas eram tiradas das azas daquella pomba divina; mas o estylo tão diverso, tão particular e tão proprio de cada um, que bem mostra que era seu. Matheus facil, João mysterioso, Pedro grave, Jacob forte, Thadeu sublime, e todos com tal valentia no dizer, que cada palavra era um trovão, cada clausula um raio, e cada razão um triumpho. Ajuntae a estes cinco, S. Lucas e S. Marcos, que tambem alli estavam, e achareis o numero daquelles sete trovões que ouviu S. João no Apocalypse: Locutai sunt septem tonitrua voces suas. (Apoc. X — 3) Eram trovões que fallavam e dearticulavam as vozes, mas essas vozes eram suas: Voces suas; suas e não alhêas como notou Ansberto: Non alienas, sed suas. Emfim prégar o alhêo é prégar o alhêo, e com o alhêo nunca se fez coisa boa.

Comtudo, eu não me firmo de todo nesta razão, porque do grande Baptista sabemos que prégou o que tinha prégado Isaias, como notou S. Lucas, e não com outro nome senão de sermões: Prædicans baptismum pænitentiæ in remissionem peccatorum, sicut scriptum est in libro sermonum Isaiæ prophetæ. (Luc. III — 3) Deixo o que tomou S. Ambrosio de S. Basilio, S. Prospero e Beda de Santo Agostinho, Theofilacto e Euthymio de S. João Chrysostomo.