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SERMÕES.
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ções e as nossas vaidades e as nossas fabulas não tenham a efficacia de palavra de Deus!

Miseraveis de nós, e miseraveis dos nossos tempos! pois nelles se veio a cumprir a prophecia de S. Paulo: Erit tempus, cum sanam doctrinam non sustinebunt. (2. Tim. IV — 8) Virá tempo, diz S. Paulo, em que os homens não soffrerão a doutrina sã: Sed ad sua desideria coacervabunt sibi magistros prurientes auribus; mas para seu appetite terão grande numero de prégadores feitos a montão, e sem escolha, os quaes não façam mais que adular-lhes as orelhas: A veritate quidem auditum avertent, ad fabulas autem convertentur: Fecharão os ouvidos á verdade, e abril-os-hão ás fabulas. Fabula tem duas significações: quer dizer fingimento, e quer dizer comedia; e tudo são muitas prégações deste tempo. São fingimento, porque são subtilezas e pensamentos aereos sem fundamento de verdade; são comedia, porque os ouvintes veem á prégação como á comedia; e ha prégadores que veem ao pulpito como comediantes. Uma das felicidades que se contava entre as do tempo presente, era acabarem-se as comedias em Portugal; mas não foi assim. Não se acabaram, mudaram-se; passaram-se do theatro ao pulpito. Não cuideis que encareço em chamar comedia a muitas prégações das que hoje se usam. Tomára ter aqui as comedias de Plauto, de Terencio, de Seneca, e verieis se não achaveis nellas muitos desenganos da vida e vaidade do mundo, muitos pontos de doutrina moral, muito mais verdadeiros e muito mais solidos, do que hoje se ouvem nos pulpitos. Grande miseria por certo, que se achem maiores documentos para a vida nos versos de um poeta profano e gentio, que nas prégações de um orador christão, e muitas vezes, sobre christão, religioso!

Pouco disse S. Paulo em lhes chamar comedia, porque muitos sermões ha, que não são comedia, são farça. Sóbe talvez ao pulpito um prégador dos que professam ser mortos ao mundo, vestido ou amortalhado em um habito de penitencia, (que todos, mais ou menos asperos, são de penitencia; e todos, desde o dia que os professamos, mortalḥas) a vista é de horror, o nome de reverencia, a materia de compuncção, a dignidade de oraculo, o