— Mas o que ha, afinal? – perguntava ela.
E o marido, muito animado, respondia:
— Olha, minha filha, não te posso dizer mais nada por ora, mas crê que toda esta miseria vae acabar... Nós tambem havemos de ter o nosso S. Martinho!
Ela então, n'uma desconfiança que desejaria occultar, retorquia:
— Pois sim... mas amanhã? O que faremos nós ámanhã? Não temos nada, nada!...
E soluçava:
— Já não nos fiam!... à noite não temos luz... ámanhã não teremos pão!...
Êle ergueu-se de repelão, o olhar brilhante, onde a esperança punha fulgurações alegres, envolvia-a cariciosamente, e, caminhando para ela, abraçou-a ternamente, dizendo-lhe:
— Martha, não te aflijas mais, crê em mim! todo este inferno de vida vae terminar amanhã. Tem paciencia em breve saberás tudo.
Dirigiu-se em seguida para a porta e, quasi a transpô-la, enviou-lhe um beijo, repetindo:
— O nosso S. Martinho vae chegar!...
Levava cinco mil réis no bolso. Cinco mil reis! Porque os não entregou à mulher? Que consolação para a pobre Martha, se o tivesse feito!